Não sentia nada. E só tentava explicar das vezes que senti dor, dias atrás. Queria poder encerrar tudo ali, de algum jeito, mas imortalizando aquele amor dentro de mim e partindo. Veio a minha cabeça, lembranças de gritos, meus pais morrendo por minha culpa, minha família destituída, minha vida dilacerando, eu não tinha mais o apoio deles. Eu não teria mais. Estava só. E nela, depositei o que havia guardado em mim, por todos esses anos, mais o que eu não poderia depositar nos meus pais. Até o que era pra ficar comigo, eu entreguei. Fiz mal, mas hoje, resgatei algumas para mim. Por incrível que pareça, não haviam lágrimas. Uma crise, talvez existencial, sem lágrimas, nem dor. Pensei que estivesse morrendo. Estava fraca, os olhos pesados, mas o corpo leve. Me despedi, pedi para que realmente me deixasse. Me vi inconsequente, impotente, não teria mudanças, se eu continuasse ali. Pedi à Deus que me levasse. Aproveitasse esse momento insensível e indiferente, e me tirasse de vez dali. Pra longe, com ele. O telefone tocou. Nem me movi. Meus pais, saíram do quarto e vieram me mostrar a que ponto eu havia chegado. Apenas disseram, e eu ouvi, quieta. Nada de lágrimas. Nada de nada. Não era eu. Escutei a voz, que me implorava resposta, lhe desesperei, lhe acalmei, me deitei. Os olhos fixos na janela. Essa rua, conta histórias de gays, lésbicas, traficantes, prostitutas, drogados, sonhadores, loucos pela vida. E eu, pensando em morrer. Pelo menos queria sentir algo, me sentir viva. Peguei algo pontiagudo no escuro e tentei sentir dor no braço, tentei sentir medo, pensando no que meus pais iriam fazer no outro dia, tentei pensar nela. Dormi, pensando em não acordar. Daria menos trabalho. No outro dia, vi o sol nascer.
A sensação de estar atravessando uma ponte e não chegar no destino desejado nunca cessa. E sempre achei isso um tanto bom. Tantas decepções com as pessoas ao redor me deixou dura, com medo de certezas e fixações. Prefiro o temporário, o que muda, o que deixa eu me mover do lugar. Sinto saudades do que passou, confesso. E uma vez ou outra vendo as fotos, eu não consigo me segurar. Dá vontade de pegar no telefone e ligar pros amigos, para perguntar o óbvio, por que será que acabou, por que tão longe, por que não dá pra voltar… E questiono se realmente esqueci toda aquela última história que me carregou até minha última pequena grande decepção no amor. Isso acontece ás vezes nos domingos em que não me ocupo muito. A mente para e pensa. Mas voltando à ponte, no meio do caminho, uma pessoa chegou. E todo mundo sempre vem com aquela voz de cansada das minhas histórias, da minha vida. Mas é a verdade. E eu não nego que tive medo, que tenho medo, que fico feliz, que me esfria a barri...
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