Meu pai, você não deve continuar assim. Tenho dito entre as portas batidas na hora do nervosismo, não deve permanecer assim. Esse copo não lhe faz bem meu pai. E faço mal à sua solidão. Me senti inútil quando vi nos seus olhos, aquela coisa que eu chamo tristeza. Aquele olhar fundo, me procurando pequena. Que falta me fez voltar no tempo. Poder consertar um bocado de coisa que me contaram, e que também vi. Eu sei quem é você meu pai. E, sinceramente, parece até com meus irmãos. Jeito meio bobo de pensar tantas vezes. Deslumbrar com essas coisas que o mundo inventa, que dizem trazer vida boa. Vida boa pra mim, estava na sua pasta de música, naquele seu violão velho no quintal com minha mãe cantando. A gente nem tinha muita coisa. Mas nem tanta coisa era preciso. Tinha lá seus copos e garrafas espalhadas pela casa. No final, minha barriga doía de tanto comer. Tudo bem porque eu sei que não dava tanto valor. Mas sei o quanto era feliz. E quer saber? Eu me sentia bem, mesmo só ouvindo. Mesmo só correndo pela casa, coisa que eu amava fazer. Mesmo que por um bom tempo, me senti só. Faz mal não pai. A gente se sente só, mas aprende muita coisa. Você disse isso quando eu fui embora tentar estudar. Eu aprendi coisa demais mesmo. Mas voltando a você, eu só queria que parasse um pouco. Pensasse um pouco. Onde é que vai chegar assim? Faz tempo que não busco remédio pra você. Deve fazer tempo que nem toma remédio. E o copo, na mão. É meu pai, eu tinha que conseguir falar... Mas enquanto não consigo, eu rezo e peço a Deus, que te mostre aquela vida melhor e te faça guiar nesse caminho.
A sensação de estar atravessando uma ponte e não chegar no destino desejado nunca cessa. E sempre achei isso um tanto bom. Tantas decepções com as pessoas ao redor me deixou dura, com medo de certezas e fixações. Prefiro o temporário, o que muda, o que deixa eu me mover do lugar. Sinto saudades do que passou, confesso. E uma vez ou outra vendo as fotos, eu não consigo me segurar. Dá vontade de pegar no telefone e ligar pros amigos, para perguntar o óbvio, por que será que acabou, por que tão longe, por que não dá pra voltar… E questiono se realmente esqueci toda aquela última história que me carregou até minha última pequena grande decepção no amor. Isso acontece ás vezes nos domingos em que não me ocupo muito. A mente para e pensa. Mas voltando à ponte, no meio do caminho, uma pessoa chegou. E todo mundo sempre vem com aquela voz de cansada das minhas histórias, da minha vida. Mas é a verdade. E eu não nego que tive medo, que tenho medo, que fico feliz, que me esfria a barri...
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