Meço minha coragem de acordo com o crescimento das unhas. Isso porque elas estão quase sempre curtas. Minha ansiedade é maior que a coragem, talvez. Mas me pergunto, quantas pessoas existem dentro de mim, quando me pego acreditando em contos ou emboscadas que crio num quarto que só eu durmo, crio sozinha, me pressiono, me prendo à rotina de ter que continuar sendo refém da mania. Prego minha indiferença à qualquer coisa que me tire o controle mental, que me deixe vulnerável e não me permita ter condições de voltar pra casa sozinha, se necessário for. Mas até onde vai isso, eu não sei. Nas entrelinhas me entrego à qualquer bom observador: quem muito foge do fogo talvez seja suscetível a ele, na sua maior sensibilidade. Me cansa o fardo pesado de me conhecer a tal ponto, se sou só minha é assim que tem que ser. Nunca se sabe, se a bomba relógio termina de contar por desespero ou liberdade. Mas com o passar do tempo, acho que ela conta em ordem crescente. Afinal, depois que se cresce é feio demais acordar em crises existenciais.
A propósito, fazem quinze dias que minhas unhas crescem, sem interrupção dos dentes.
A propósito, fazem quinze dias que minhas unhas crescem, sem interrupção dos dentes.
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