Quando eu era criança, lembro da minha mãe com mania de nos levar a alguma benzedeira do bairro. Parecia mesmo que tudo que pudesse estar errado, voltaria ao normal. Doenças, desânimos, rosto amarelado e até nota ruim na escola era motivo. E parecia um passeio legal em família, daqueles que nos reunia de verdade nos fins de tarde na menor cidade que já morei. E benzer pra mim parecia um carinho. A senhora velhinha que me passava as mãos no rosto e no cabelo, dizendo orações baixinho. Eu ficava com sono por tanta calma. Lembro de falar com meus irmãos o quanto era bom e o quanto queria que durasse mais tempo. Acho que desde sempre senti falta daquele tipo de carinho. Lembro que depois brincava com meus irmãos em casa, cada um tinha seu momento de ganhar carinho na cabeça, parecia engraçado, mas levávamos muito a sério.
Depois de um tempo, eu era responsável por levar meus irmãos pra serem benzidos. Me sentia muito bem fazendo aquilo por eles. E aos poucos, minha mãe foi conhecendo benzedores diferentes. Quando eu tinha uns quinze anos, ela me levou em um e pediu que ele lesse minha mão. Eu me assustei, porque até então só gostava mesmo de toda aquela oração na minha cabeça. Mas acho que minha mãe chegou a achar engraçado. E foi então que ele disse olhando pra mim que eu era muito prática com namoros. Se eu gostasse de alguém e a pessoa não desse a mínima, eu esqueceria fácil. Só apostava em fichas certas. Mas que eu era difícil pra amar de verdade. Que demorava. Era raro. A verdade é que até então, eu não tinha namorado.
Depois de anos, eu volto a me lembrar disso e minha vontade é de procurar o mesmo benzedeiro, pra entender melhor o que ele queria dizer. Eu queria voltar e pedir aquele carinho na cabeça, com aquele raminho, sussurrando orações. E perguntaria onde foi que ele viu que eu não sofreria por amor. Onde foi que ele leu e se não leu em alguma cicatriz confundindo os caminhos, que eu era prática. Porque sinceramente, o que eu mais queria nesse momento era ser prática com o tal do amor.
Comentários