Meu primeiro beijo.

Talvez seja mesmo irônico eu postar isso aqui, depois de tanta coisa romântica, forte ou impactante. Mas esse post, seria cômico, se não fosse trágico.


Eu tinha lá meus doze anos de idade, a tábua da sala, magrela de ruim, enquanto as meninas ta minha turma, chegavam na segunda-feira contando que tinham menstruado pela primeira vez. Eu sabia que a minha ia demorar olhando bem pros meus seios, e, acredito que os hormônios descontaram mesmo foi no meu cabelo que aos poucos perdeu o brilho, e no meu rosto que se encheu de espinhas, mas tudo bem. Mas até ali, eu era somente uma menina-tábua de cabelos lisos e pretos e curtos, com uma cara de boneca de olhos enormes (meu nariz tinha tamanho normal, outra coisa que os hormônios devem ter feito em mim). A não ser as novas menstruações, outro assunto que chagava às segundas era o primeiro beijo de algumas garotas. Geralmente com algum carinha lá do terceiro ano, que a maioria amava, morria e matava por ele e bem, lutava pelo menos uns seis meses até conseguir chegar ao tão bendito beijo. Hoje, chamo isso de pedofilia. Doze anos, com um cara de dezoito? É, pedofilia. Eu não sonhava com ninguém, por incrível que pareça, a não ser com a Avril Lavigne, cantando 'naked' pra mim, lá no quintal de casa. Mas até aí eu não via a Avril além de uma supercantora, linda e a melhor amiga do mundo.
Num dia que eu não me lembro exatamente qual, acredito que numa sexta-feira (quando os 'crimes' aconteciam), minha antiga cidade contava com uma feira, a bendita feirinha, sempre salva os pobres, entediados e crianças que não têm um lugar melhor pra ir. Eu já estava pronta, com provavelmente uma saia e legging, não me lembro a blusa e um casaco preto (e tenho o dito cujo até hoje, minha mãe apenas mandou uma costureira aumentar no comprimento... é, continuo uma tábua), iria com meus dois irmãos menores, como sempre foi. Um de onze anos, e outro de sete, que inclusive, é hiperativo. Papai nem mamãe iriam. Meu irmão de onze já planejava conseguir falar com alguma garota, o que era sim, muito complicado na época. Eu, provavelmente ficaria andando atrás dele e tentando conter o menor, das bagunças como segurá-lo pra que não pulasse dentro da fonte da praçinha. Ah! Me lembrei! Um vizinho foi com a gente também. Outro menor, okay nem eu era muito grande, mas o pirralho tinha uns cinco anos. Fomos só, alegres e independentes. A bendita feirinha parecia um formigueiro, dava medo. Ali a gente encontrava a cidade inteira, os amigos e inimigos. Me lembro que num momento de distração, quando perdi meu irmão de vista, acabei encontrando um garoto que odiava, enquanto ele me amava mas adorava me encher a paciência, cheguei a espancar ele na saída da escola bem umas sete vezes. Crianças vêm, crianças vão... vi meu irmão conversando com uma amiga da escola, amiga dele até hoje. Trombei numa garota da minha sala, da minha turma, ou da turma que acabei me infiltrando desde quando pisei na sala. Eram as patricinhas mesmo. Eu era a quarta, sem jeito, sem saída, sem peito, sem graça e a que não se arrumava, nem se maquiava. Mas era a quarta! Comecei a conversar com ela, quando meu irmão veio correndo me avisar que tinha um garoto querendo ficar comigo. Fiquei em pânico, porque quando ia dizer não, o infeliz do meu irmão gritava: - é sua chance véi, aí você perde seu b.v., tooodas as meninas da miinha sala já perderam! - olhei pra minha amiga, ela ria sem parar. Bem, a escola na segunda-feira, saberia com detalhes, mesmo se eu não tivesse feito porra nenhuma. Ela me olhou sem jeito : - vai lá! - sorri confiante e meu irmão com aquele olhar de provedor do sucesso do meu primeiro beijo: - é só beijar e ir embora! Ele mesmo falou! - pensei que fosse melhor assim. Eu tiraria o peso de ser uma boca virgem das costas e, lembrando que nenhuma das garotas da minha turma, do quarteto tinha beijado na boca. Seria eu, a primeira! Lindo né? Foi aí que perguntei meu irmão, no caminho, enquanto ele ofegante repetia o nome do menino... quando me dei conta de quem era, esmureci. Quem? Nossa, não tem outro não? É, fudeu. Agora já era. Percebi a 'pequena' movimentação dos meus vizinhos e dos meus irmãos mandando a resposta 'sim' pra frente, provavelmente pro garoto se preparar. Fui andando, num ritmo mais devagar, pensando que merda estava fazendo. O menino era mais novo do que eu, tudo bem. Eu iria ficar com alguém, antes das minhas amigas, ótimo. Mas o garoto era feio pra caralho. Puta merda, cara era muito feio! Ainda bem que nem tenho rastro dele hoje, porque seria doloroso ele ler isso. Mas era. Meu irmão começou a dizer onde eu iria esperá-lo pra ser beijada e depois ir embora (profundo isso né?) e entrei numa rua, bem escura, uma rua estreita onde se podia tropeçar em casais de pré-adolescentes se pegando, sem saber o que fazer, entrei num lote bem feio e fiquei por lá, esperando. Me encostei num muro chapiscado, ainda bem que estava de casaco. Olhei pro lado e podia ver meu irmão, o mais velho com aquela cara feliz, dizendo que o garoto já estava chegando. Na hora, imaginei que a maioria dos irmãos, teria um ciúme enorme até de saber que a irmã de doze aninhos estava prestes a beijar um garoto que ela mal conhecia. Minha família é, sempre foi, muito diferente. Pois bem, havia chegado a hora. O menino chegou com pressa, hoje tenho a impressão de que ele tirou uns dez b.v.s naquele dia. Me olhou meio de frente, segurou meu rosto e me deu um beijo que, bem, a única coisa que me lembro de verdade, foi de ter aberto bem os olhos pra ver como estava 'lá fora', me sentir 'indo e vindo' com a boca, havia algo lá dentro e... quando olhei direito, havia uma platéia me vendo. Meu irmão mais velho, a amiga dele, meu vizinho e o primo dele, e meu irmão menor, que, cruzando as mãozinhas e tentando entender, colocou um pé na frente, caso alguém mandasse correr. Num segundo, o garoto parou de me beijar. Olhei pra ele, dei um sorriso, e ele saiu. Deve ter dito alguma coisa, que não me lembro agora. Saí com a platéia quase aplaudindo, sorrisos e risos e perguntas, claro. Meu irmão maior, já tinha corrido na frente, voltou pra mim e disse: - é, ele disse que você beija bem - Eu sorri vitoriosa. Se gostei do beijo? Bem, provavelmente fiquei curiosa, porque me lembro que no outro dia, beijei o mesmo garoto de novo. Na segunda-feira, lá estava eu, chegando enquanto a sala toda me olhava, da cabeça aos pés, como se desse pra ver por aí que eu havia perdido aquela virgindade. Me sentei e as meninas começaram: - Quem diria hein Sofia... -

Hoje sim, elas diriam... quem diria, hein sofia...

Comentários

Luiza Paulino disse…
'Hoje sim, elas diriam... quem diria, hein sofia...'

Com certeza diriam hehehe
Muito bom!
J.V.Kaisen. disse…
Quem diria que você iria escrever algo assim. Adorei; e achei menos trágico do que o meu! haha.
Quem diria hein Sofia ?! HAUSHAUSHAU

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