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Mostrando postagens de setembro, 2012
Antes de dormir falo sozinha sobre as coisas que me apertam por dentro. De uma certa angústia que nem eu mesma sei que sinto. Aprendi a conviver. Não por maldade, me contenho e desabafo às paredes, porque elas sempre absorveram tudo. Posso ver os mofos dentro delas, por tanta história.  Me perguntei por vezes por que mesmo eu deixei de ser menor, mais ambulante e viva, e passei a tomar chá demais. Minhas pernas se alongaram e disseram que se eu pulasse alto demais, iria logo bater a cabeça na madeira da porta. E no costume de dormir encolhida, minha mãe tentou reverter puxando minhas pernas, e esticando, dizia que esse era o motivo de eu demorar tanto a dormir. No outro dia me acertou uma panela singelamente na cabeça, por falar demais. Mas deixei de subir em árvores, de correr pela casa, de dançar com qualquer música, de escrever no ar. Não poderia mais dizer por horas sobre as coisas que pensava, à minha maneira, ou seria sempre censurada. Comecei a escrever nos cadernos.
Acumuladora de embalagens, folders, papéis aparentemente inúteis, grampos, extratos de banco, notas fiscais, garrafas, post it usados, adesivos velhos com cola, papéis de presente usados, lápis sem ponta, canetas sem tinta, desenhos pela metade, paredes rabiscadas, fotos enroladas, meias palavras, acumuladora de meias frases, meio amor, meio passo, meio medo, meia vontade, meio texto, porque é melhor todo mundo entender todo o resto. 
Rascunhei algo a uns dias atrás, relacionando minha covardia aos pingos de chuva até menos covardes do que eu, aquela coisa boba que caía do céu e iludia meio mundo, mas não molhava nada. Mas não escrevi, deixei de lado, parecia bobagem. Nada como esperar uns dias e ter prazer em ver a chuva chegar forte, batendo na janela, ventando frio com o céu meio rosa. Eu sentia calor suficiente, uma proteção diferente ou mesmo a tal coragem e vontade entrar debaixo dela e me molhar. Acho que é um pouco de tudo.
A confirmação se dá na primavera, que mais parece o ápice do verão de tão quente. Sem o pretexto de dizer que faz frio e que a saudade é por falta de um corpo pra esquentar a cama, sinto falta, do mesmo jeito. Com a coragem de colocar ainda um edredon mesmo por baixo das pernas e vento nenhum faz diferença aqui dentro. Mas eu quero, eu quero e eu quero. 
Sobre todos os clichês que ainda não tinha vivido. Ou tinha, mas não parecia real. Quando pode ser grande demais, intenso demais, o melhor é não pensar. Nem no que pode ou não ser. Ou simplesmente esquecer da ordem natural das coisas: início, meio e fim. Quando não se sabe nem em qual fase o ponteiro do relógio está. 
E crescendo se vê, que perder é mais normal do que parece. Cheguei a pensar que estivesse na moda, ou coisa assim. Não que seja exatamente bom. Mas é engraçado como os fracassos sociais fazem a vez e a vida das pessoas e como é normal esconder tudo debaixo do nariz. Existe uma obrigação de estar e ser feliz, ser uma salvação pela facilidade de hoje, porque a geração passada sempre foi e sempre será a melhor. Existe um esforço máximo ao trabalho, ou então esforço mínimo, uma desistência que faz qualquer um escrever na sua testa: "perdedor". Ou se morre por um, ou por outro. Ou luto até conseguir ser a melhor, com a sensação de nunca chegar lá e ficar careca ou deprimida por isso, ou encaro a distância do podium e engulo o futuro e vomito depois como der. Há um esforço enorme para não se mostrar sozinho, simultaneamente não se mostrar casado. Entrega-se às escuras, com medo de se perder. Sob as luzes, dança-se sozinho ou com desconhecidos, com medo de perder pra eles. Ao tele
Eu tinha uma melhor amiga na época da escola, que na verdade eu não entendia direito o porque ela gostava tanto de mim, já que ela era muito mais legal do que eu. Legal porque ela era diferente, de qualquer amiga que eu já havia tido. Havia chegado na cidade com a mãe, quando eu estava na segunda série. Eu odiava aquela aglomeração na mesa dos novatos então deixava os babões por lá e não saía do meu lugar. Mas ela saiu do lugar dela e me chamou pra ver a escola no intervalo. Ninguém se interessava por minha amizade a tal ponto, então... eu achei legal. Tinha um vestido da turma da mônica, o qual eu nunca veria pendurado em loja alguma daquela cidade minúscula. E falava diferente, com sotaque forte e conhecia muita coisa. Algumas semanas e ela era a mais inteligente da sala, para o ódio mortal da dupla feminina de competição de puxa-saquismo da professora. Não entendi bem, mas ela dizia algo sobre ir embora. E foi. Tanto que acho que perdeu o concurso de poesia, o qual eu participei,
Eu já havia dito que queria, que fosse por instantes, saber quais cores ela enxergava, onde faltava luz e queria entender porque abrir a janela não parecia o suficiente pra sorrir todos os dias. Mas é impossível viver a vida dos outros. É impossível que eu sempre pense do lado de fora e esqueça de lembrar de que dentro de mim, existem minhas cores, a luz que enxergo e minha janela. Quando pude, eu disse como as coisas podem ser mais coloridas. Não há nenhuma perfeição no mundo, tudo bem. E se cair, errar, se machucar e machucar os outros faz com que as cores se desgastem e ganhem tons escuros ou cinzas demais, é abrindo a janela, todos os dias, mais e mais uma vez que as cores podem se renovar. É o que eu digo e o que eu posso fazer. Mas acredite: cada um faz por si, a vida é insubstituível. E desistir dela, não faz da gente menos errante.
Havia me apegado ao brilhante fato de estar distraída, e assim, condizer o quanto encantador pode ser admirar alguém e por acaso, talvez, mas sem pretensão alguma, ser admirada de volta. Pensando nisso, guardei a sensação ruim, de que, sabendo de tudo a todo tempo estaria perdendo tudo. E pior, estar distraída, seria então, não captar todos os detalhes? Porque não sei, não me controlo, mas quando assusto me pego contando mechas de cabelo e analisando cheiros no supermercado. Não vejo nada disso como ruim. Não quero ver. Porque além de todos os detalhes que não consigo resenhar em palavras, eu sinto que há uma distração nada intencional em assistir alguém dormir, em sentir gosto por cortar o dedo e não estar sozinha, em querer comer de novo e de novo o que ela cozinhou e em simplesmente acordar e dormir sem sentir frio. Acho que somos distraídas o bastante para viver em paz, três dias sequenciais como se fossem onze meses. Onze meses e é como se fosse ontem, tudo isso.
Promessas sobre dias sem fazer muita coisa, preencher o quarto com todos os detalhes que guardei bem escondido até de mim mesma e deixar todas as coincidências (ou não) tomarem conta. Se tive uma pequena premonição do que aconteceria uma vez, acordar todos os dias e mesmo sozinha, conseguir olhar a janela sorrindo é algo que eu não imaginaria fazer tão cedo. Engraçado é ficar feliz, simplesmente por estar feliz da forma que estou. Parece confuso, mas é que ás vezes me pego olhando a rua pela janela, como se ela fosse apontar na esquina e, mesmo sabendo que é quase impossível, começo a rir e volto a tudo que tenho pra fazer. Porque é bom sentir saudades, é bom esperar. É bom poder ser livre pra fazer o que eu quiser, finalmente. E no final do dia ainda sim pensar em um nome só.
Vez ou outra goteja saudade de acreditar nas pessoas, quando estou na cozinha. Vem da torneira, com uns sons estranhos, dizendo pra eu continuar andando. Guardo a mensagem e aperto com mais força até parar de pingar.
Utópica moda de ser livre, por um cigarro entre os dedos e copo meio cheio de bebida forte. Quanto mais forte, menos gelo. Quanto mais foda, mais erva. Quem conhece pó é o melhor. Em casa iogurte fino, videogame, edredon colorido, canais fechados, marca na blusa, tênis importado, inglês fluente, shampoo profissional, guitarra por hobbie, pele sensível, doença nas unhas, cirurgia plástica, viagens internacionais. Mas é radical escrever 4:20 no muro da vizinha pobre, que tem um filho da sua idade procurando emprego mas não consegue porque deixou a escola de lado e tem a cara preta marcada pelo preconceito. É radical hackear, trair, usar, cheirar, injetar, consumir, espancar, mentir, debochar, fingir e humilhar. E ainda cospe à meia boca que vive uma ideologia pura, baseada no natural e na igualdade, nas lições do passado onde gritavam paz, amor, sexo e rock and roll. Tsc tsc.