Antes de dormir falo sozinha sobre as coisas que me apertam por dentro. De uma certa angústia que nem eu mesma sei que sinto. Aprendi a conviver. Não por maldade, me contenho e desabafo às paredes, porque elas sempre absorveram tudo. Posso ver os mofos dentro delas, por tanta história. 

Me perguntei por vezes por que mesmo eu deixei de ser menor, mais ambulante e viva, e passei a tomar chá demais. Minhas pernas se alongaram e disseram que se eu pulasse alto demais, iria logo bater a cabeça na madeira da porta. E no costume de dormir encolhida, minha mãe tentou reverter puxando minhas pernas, e esticando, dizia que esse era o motivo de eu demorar tanto a dormir. No outro dia me acertou uma panela singelamente na cabeça, por falar demais. Mas deixei de subir em árvores, de correr pela casa, de dançar com qualquer música, de escrever no ar. Não poderia mais dizer por horas sobre as coisas que pensava, à minha maneira, ou seria sempre censurada. Comecei a escrever nos cadernos. Parece mesmo libertar. Mas parece, e não é bem assim. Da minha boca não sai quase nada. Tenho mesmo preguiça de falar, alongar assuntos, mudar caminhos. Observo, cada detalhe, e guardo preciosamente pra mim. Não vale a pena, quase nunca, dizer detalhadamente o que se pensa, talvez. 

Poucos são os que me conhecem. Pior aqueles que não me viram mudar aos pouquinhos. Não, as pessoas nunca mudam sua essência. Mas cair e levantar, apanhar e não entender os motivos sempre me fez recuar nessa multidão de desconhecidos. Quase todos os desconhecidos, estão dispostos a me encarar de costas. Eu posso acreditar nisso. E não espero, quase nunca, que venham tocar meu ombro, oferecendo ajuda. Eu cito quase em tom de desespero, dizer tanto pessimismo em tão pouco. Mas é o mínimo que se esconde por aqui, entre as paredes. São noite bem dormidas, com sonhos confusos e tristes. E essa certeza de uma desorganização mental por querer tanto acreditar nos outros e não conseguir mudar meu discurso desconfiado em nem uma vírgula.

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