Postagens

Repito a história de minha mãe (com poréns)

Em trinta e dois dias, completo trinta anos de vida. E é inevitável não comparar o estágio da minha vida hoje, com o que era a vida de minha mãe, aos trinta. Porque somos a únicas mulheres da casa.  E porque mesmo tão distintas, vez ou outra me deparo lembrando de similaridades.  A rebelde da casa. Mesmo silenciosa e um meio inocente. A que se entregou a relações. Pela fidelidade extrema, ou por simplesmente trocar de mundos para que tudo dê certo. E por amor mesmo.  A cigana. Troca de casas e cidades enfrentando o que precisar. Em nome da família mas do bem estar como um todo. E quase sem medo algum, diz sim para novos grandes projetos. Grandes mudanças. As vezes sem tantos planos. Apenas o deslocamento.  E as palavras da minha mãe sempre ressoaram na minha mente. Me lembro de quando ela teve a primeira conversa calma comigo, sobre eu namorar uma menina do bairro. “Você vai ter que fazer como o cunhado de minha irmã. Quando decidiu namorar um homem. Pegou as trouxas dele e foi embora

Três anos depois Pt 2

 Em 2017 eu estava em um relacionamento sério com uma mulher que conheci online. Nada muito novo pra uma millennial. Tirando o fato dela ser americana e ter mudado pro Brasil pra gente ficar junta. Mas se namorar a distância com muita fidelidade é prova de amor, morar junto também é. Por vários motivos a relação deu certo até um ano e meio e depois pifou. Sofri muito, sim. Mas hoje sou grata a tudo aquilo que me aconteceu, pois me impulsionou pra que eu saísse do Brasil de novo, mais uma vez sozinha, mas dessa vez solteira.  Me vi morando na Califórnia, fazendo um estágio, conhecendo pessoas incríveis e um universo progressista e cheio de oportunidades. Ainda hoje considero a melhor época da minha vida. Não tinha muito dinheiro, mas sempre tive mais e mais chances de trabalho lá. Conheci uma mulher incrível que hoje é minha esposa. Mas os Estados Unidos ainda não era o lugar que eu conseguiria me estabelecer de fato. Minha esposa é britânica e nunca teve green card. Então assim que nos

Três anos depois

 Três anos distante daqui. Mas a angústia do momento em que vivemos me faz querer voltar a escrever. Mesmo que ninguém leia isso.  Comecei esse blog assim que eu tive acesso à internet pela primeira vez, 2009. Deixei aqui marcados os momentos marcantes de um fim de adolescência conturbado, com o início da vida adulta. Foi tudo como uma bomba. Uma bomba atrás de outra. Tanta coisa nova pra que eu me adaptasse que hoje acredito ter sossegado em mim, o choque ou a surpresa.  Mas a gente não acostuma, na verdade internalizamos a maioria das grandes mudanças. “Aceito e agradeço” diríamos em um post de mais uma nova rede social. E tendo o privilégio de pagar por terapias, análises e conversas com profissionais de saúde, eu percebi o quanto é importante que eu comunique e expresse o que eu sinto.  Pra quem não sabe (ironia) estamos todos no meio de uma pandemia. E com ela, ficamos mais tempo em casa, sem poder ter contato com pessoas “fora da bolha”. Daqui a um mês, faço um ano de pandemia e

De volta ao exílio. Mas com liberdade demais.

Percebi que só volto aqui quando me sinto uma penugem solta no ar. Sem chão mesmo. Isso precisa mudar e então resolvi me estabilizar melhor para entender tudo à minha volta.  Passei dois anos vivendo uma luta incessante para viver novas aventuras. Tinha um novo amor, o qual citei uma ou duas vezes, e me guardei em silêncio para muita gente sobre isso, a fim de evitar tantos comentários sobre mais um namoro à distância. Deu certo, até o dia do fim. O ano de dois mil e dezessete foi dolorido, muito trabalho, uma vontade louca de ter aquele amor pra sempre, pouco dinheiro e vários momentos de descobertas. No fim, eu tinha quase tudo nas mãos: um programa de trabalho fora do país, passagem, malas prontas. Ela resolvera voltar para casa, no mesmo país que eu iria, porém a três horas de fuso. Era o fim. Acho que nos prolongamos até mais do que devíamos. Me machucou chegar na Califórnia e lidar com o fato de sua voz, sempre calma, me dizer que mereço outra pessoa. Alguém... disponível.

O menino Kaisen e o caminho que a vida toma

Descobri que provavelmente ninguém mais virá aqui. Mudei o endereço do blog e, se antes não vinha muita gente, agora serão novas pessoas: as que por acaso encontrar o endereço de não mais uma menina pajarito. Agora, por mais que doa as pernas, a cabeça, as contas no fim do mês, a vida adulta me chama de mulher. Mas preciso recontar uma história, para os que chegaram agora. Comecei esse blog há nove anos (meu deus! nove anos!) escrevendo sobre todas as angústias e as maravilhas de ser uma menina que sabia que amava outras meninas. Ou uma apenas, naquele tempo. Naquele tempo, tudo era mais mágico - havia tempo para escrever. Ao longo da vida, me perdi em caixas de mudanças, rotinas com a faculdade de design, namoros abusivos, muita dor e uma recuperação digna de silêncio. Silêncio porque se tem uma coisa que me traz paz, é o silêncio calmo, de quem já tem (quase) tudo resolvido. Agora é só esperar. Me formei sem vontade de transformar o mundo. Foi aí que voltei pra cá. Meu espacinho

I'm like a bird, Six Feet Under e os últimos 5 anos da minha vida.

Deixei essa música pra tocar, porque me lembro de ouvi-la há anos, desde quando terminava o ensino médio, até à época em que entrei pra faculdade. Hoje, trabalho em uma rádio que toca sempre, mesmo que ela seja uma música velha que a geração dos meus irmãos mais novos nem conhece. E toda vez que ela (e outras músicas antiguinhas) tocam enquanto trabalho, minha mente volta anos atrás. Acabo analisando várias coisas. Naquela época, eu achava que não iria gostar tanto de ninguém, e como minha vontade secreta sempre foi "bater asas" por aí, mudar de estado, país, conhecer coisas e lugares novos, eu sempre me via na música. Parecia coisa de adolescente mesmo, querer tudo aquilo. Mas aí, hoje vejo que estou a um passo de largar o pouco que tenho (pouco mesmo) pra me aventurar em uma vida que eu pensava em ter. Obviamente, eu gostei de muita gente, amei demais, sofri mais ainda (infelizmente ainda não consigo olhar apenas com o coração sem mágoa nenhuma de todos os meus

Voltei.

Voltei lá no tempo em que escrevia bastante. Quase sempre, quando dava. Mas dava mais do que dá hoje. Li várias vezes um texto antigo que escrevi para alguém. E dediquei o dia de hoje a pensar na pessoa que me transformei nos últimos três anos. Não confio em quase ninguém, e me dedico menos ainda a quem amo. Não sei mais explicar quando sinto amor. Não leio tanto mais, me amedronto com estranhos nas ruas, com ônibus lotados ou vazios demais e com a solidão. Logo eu, com medo da solidão. Ganhei um amor daqueles que sempre pedi, sem dor, sem tanto medo e com uma mochila nas costas. Só falta eu decidir quando será a partida. Mas às vezes acordo, olho para a cama e pro rosto dela deitada, dormindo e me pergunto se eu mereço tanto. Sinto que faço pouco. Escrevo pouco. E essa menina, ela merece tanto, tanto que o meu espelho do banheiro me fala todos os dias, que preciso trabalhar menos e amá-la mais. Voltei do trabalho hoje e a casa que vive infestada de gente, entrando e saindo está vazia