Repito a história de minha mãe (com poréns)

Em trinta e dois dias, completo trinta anos de vida. E é inevitável não comparar o estágio da minha vida hoje, com o que era a vida de minha mãe, aos trinta. Porque somos a únicas mulheres da casa. 

E porque mesmo tão distintas, vez ou outra me deparo lembrando de similaridades. 

A rebelde da casa. Mesmo silenciosa e um meio inocente. A que se entregou a relações. Pela fidelidade extrema, ou por simplesmente trocar de mundos para que tudo dê certo. E por amor mesmo. 

A cigana. Troca de casas e cidades enfrentando o que precisar. Em nome da família mas do bem estar como um todo. E quase sem medo algum, diz sim para novos grandes projetos. Grandes mudanças. As vezes sem tantos planos. Apenas o deslocamento. 

E as palavras da minha mãe sempre ressoaram na minha mente. Me lembro de quando ela teve a primeira conversa calma comigo, sobre eu namorar uma menina do bairro.

“Você vai ter que fazer como o cunhado de minha irmã. Quando decidiu namorar um homem. Pegou as trouxas dele e foi embora pra bem longe. Rio de Janeiro. Não voltou mais.” 

E assim, quase como um feitiço, me vi saindo de casa aos 20 anos e realmente não voltando mais. Assim fez minha mãe, deixando a cidade dela e encarando duas cidades desconhecidas. 

Repito sua história, e a trajetória de quem se sentiu expelida da família por ser tão diferente. E depois de anos, volta a visitar a família com uma história de sucesso. 

Porém. 

Repito a história de minha mãe, sem aceitar violências. Quebro o ciclo de silêncio, controle, censura e super vigilância. Não aceito menos do que respeito e calma, paciência e resiliência. 

Repito a fuga da normalidade, jamais abrindo mão da minha própria opinião e experiência. 

Trinta anos. Com toda a bagagem pesada despachada. Tentando carregar comigo apenas o essencial. 







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