I'm like a bird, Six Feet Under e os últimos 5 anos da minha vida.



Deixei essa música pra tocar, porque me lembro de ouvi-la há anos, desde quando terminava o ensino médio, até à época em que entrei pra faculdade. Hoje, trabalho em uma rádio que toca sempre, mesmo que ela seja uma música velha que a geração dos meus irmãos mais novos nem conhece. E toda vez que ela (e outras músicas antiguinhas) tocam enquanto trabalho, minha mente volta anos atrás. Acabo analisando várias coisas.


Naquela época, eu achava que não iria gostar tanto de ninguém, e como minha vontade secreta sempre foi "bater asas" por aí, mudar de estado, país, conhecer coisas e lugares novos, eu sempre me via na música. Parecia coisa de adolescente mesmo, querer tudo aquilo. Mas aí, hoje vejo que estou a um passo de largar o pouco que tenho (pouco mesmo) pra me aventurar em uma vida que eu pensava em ter. Obviamente, eu gostei de muita gente, amei demais, sofri mais ainda (infelizmente ainda não consigo olhar apenas com o coração sem mágoa nenhuma de todos os meus términos), então nisso a música errou bastante. Mas também superei tudo mais rápido que eu imaginava e quando me vi, estava apaixonada outra vez. Así soy yo.

Só que hoje, com 26 anos (que bizarro escrever isso) meus receios são outros. Se antes eu tinha medo de ficar presa na mesma cidadezinha com 20 mil habitantes, queria simplesmente me jogar porque eu não sabia bem como seria minha vida profissional, hoje eu sempre que entro em um ônibus olho pra trás e vejo meus pais envelhecendo. Vejo minha avó me pedindo mais atenção. Meu coração entra em conflito com vários dilemas que têm me acontecido e eu passo 20% da viagem chorando ou angustiada.

Conviver com meus pais é sim, muito difícil pra mim. Porque hoje, não consigo ter muito assunto com eles. Eles não concordam com quase nada do que penso, vivo, sinto. E passo muito tempo discordando mentalmente da maneira que eles escolheram agir e viver. Mas eu juro que hoje, eu apenas sinto e penso, poucas vezes falo. O problema é que só tenho um pai e uma mãe, não sinto tanto a falta deles por semanas. Não sei ligar pra eles em um dia qualquer. Não fui ensinada a falar "eu te amo" e sim a ser independente (até emocionalmente falando). Obviamente existe amor, existe saudade, mas não sei me expressar. Fui ficando fria com o passar dos anos. E hoje sinto a cobrança deles, mesmo que ninguém mencione isso em frases. Hoje, eu realmente não sei demonstrar meu amor aos meus pais. E a culpa é uma das coisas mais presentes quando estou com eles. Durante os últimos 5 meses, assisti uma série com minha namorada. Ela já viu várias vezes, mas gosta tanto que saltitava pedindo que eu assistisse porque eu adoro dramas cotidianos e essa série é muito bem feita. Lá fui eu. Passamos esses últimos meses vendo as histórias de uma família proprietária de uma casa funerária (inclusive moram nela), e enquanto tinham que lidar com a morte todos os dias, tinham que lidar com a vida complexa de cada um. Six Feet Under me surpreendeu, de fato. Discutíamos sobre os personagens, e eu sempre tentava me ver em um deles. Não conseguia. Mas o que todas as pessoas que já assistiram falavam era que o final era incrível. Que todos choravam muito, por dias, angustiados. Acredito que essa surpresa foi uma das coisas que mais me fez ver a série de fato. Não vou contar o final, claro. Nos momentos chave, entretanto, eu não consegui expressar a dor ou a tristeza que todos os meus amigos tinham falado. Olhei para o lado, e minha namorada que assistia pela décima vez, estava aos prantos (provavelmente pela décima vez). Engoli seco. Não chorei. Achei bonito, achei real. Mas fui dormir em pânico com minha reação e meus pensamentos. Lidar com a morte nunca foi difícil pra mim, e a série deixa tudo tão cotidiano que me surpreendi em como ficou tudo mais natural. Mas no quesito família, aquilo dói, obviamente. Nos últimos 5 anos da minha vida, eu mudei muito de lugar, fiquei fisicamente distante dos meus pais, depois voltei e fiquei totalmente distante deles porque achava (e talvez ainda ache) que era melhor para minha saúde mental. Mas hoje, vejo que uma das coisas que mais me doem em deixar tudo para crescer longe deles é o medo da morte. O medo da culpa. De não ter dado tanta atenção. Me lembro da minha mãe, a pessoa com quem mais tive conflitos na vida, dizendo que um dia eu sofreria por vê-la morta. E é tão real esse infeliz comentário que já não sei como reagir. Eu espero conseguir me estabelecer antes de qualquer decisão, pra que liberdade seja uma palavra real, e que meu crescimento seja visível. Às vezes, a gaiola não é física, ela está ao seu redor, e você nem percebe. Nem se dá conta.

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