Postagens

Mostrando postagens de dezembro, 2012
Como marionete, totalmente sem controle. Alguém grande demais pra conseguir enxergar lá debaixo,  pega pelos braços e a troca de lugar. Casa, estrada, casa, quarto. Ás vezes lhe coça a barriga, lhe sangra os dedos com tinta, a faz correr principalmente. Deve ser engraçado assistir a tudo isso. Quase um espetáculo sem espectador. Porque é só a marionete sem controle, seus braços finos, as pernas longas e o caminho longo, distante debaixo do sol de papel. Vez ou outra chove, as cores desbotam, e o controlador vem fazer ela dançar com qualquer tom, qualquer som, pra puxar a linha da boca que faz o sorriso sorrir. Ás vezes cola, ás vezes a linha repuxa e ele emenda com um drama se a boca embola, jogando gotinhas nos olhos, entorta o pescoço e narra mais um conto, que conta devagar, como é que ela foi parar ali, sozinha, outra vez.
Das filosofias de ônibus que adquiro, acredito que a que mais uso é a que escutei um dia totalmente desatenta (como quase sempre) quando uma senhora conversava ao telefone e contava da depressão de outra fulana. Depois de descrever o estado deplorável que ela chegou a se encontrar, algumas consultas com um terapeuta e a solução da moça seria, segundo receita médica, mudar de vida. Com uma frase simplória que soava realmente vitoriosa, e, não por ironia mas aquilo realmente sempre deveria ser constatado como remédio pra quase tudo que parece perdido na vida não é? Quando me saiu um tom de voz um tanto bizarro, como quem queria rir, mas não podia. A senhora explica que para isso, a moça antes deprimida cortou o cabelo tipo channel, pintou de preto e fez logo duas tatuagens. Que era pra mudar tudo de vez.
Debruço na janela, mas essa rede me espanta. Não faz nada, não corta, não repele, não machuca, mas espanta. Ás vezes eu só queria mesmo peitar melhor o que tem lá fora. Faço tudo tão correto, desço pelas escadas, encaro a porta e faço de tudo pra não bater forte. Ando sem incomodar e me sinto quase sempre incomodando. Minha regra é não dar trabalho. Ser só e suficiente. Mas vê, que nem a janela ás vezes, pode ser amiga. Nem os amigos sempre podem ser amigos. Eu conto com pontos de exceção. E faço deles a regra. Porque na verdade nunca tiram essa rede da minha janela. Na verdade as pessoas andam com pressa, fazem tudo bem correto, descem as escadas e não batem a porta porque há um bilhete dizendo que existem outros quinze apartamentos ali. Na verdade o normal é se sentir atrasado, centrado e dentro dos prédios, sentindo saudades de um outro mundo. Aquele, atrás da rede da janela.
Eu não entendia porque todo mundo fechou as cortinas. Com um ônibus tão alto e com janelas enormes, eu só queria mesmo ficar por conta da lua. Eu sei que ando fugindo de um bocado de coisa, mas fugir pra lua sempre me parece uma ótima solução. Qualquer lugar que me deixe brilhando, ou que me esconda no seu brilho. O ônibus andava, corria, e eu sentia que era exatamente isso que eu queria: correr. Senti frio a ponto de sentir dor, foi como um acordar pra várias coisas. Mas das coisas unilaterais que a vida tem, percebo que se sentir sozinho é algo inevitável nesses casos. De ônibus gelado, fuga pra lua e vento forte embaçando o vidro, me dei conta de que solidão é algo que me acompanha de forma nítida. Não sei se porque quero. Não sei se quero. Mas sei que assim é. Quando não no físico, minha mente ainda viaja sozinha, perdida em certas multidões onde frase nenhuma, bebida nenhuma, cigarro algum faz sentido pra mim.
O ponto que chego hoje, é onde se concentra tudo, ou quase tudo pelo que já passei. E arrancar motivos para acreditar em mim. Como se fosse fácil, quase sempre só. Como se fosse difícil, se sempre fui tão decidida. Mas é que seguir sempre com apatia não faz sentido por aqui.
(...) Daí eu fiquei pensando como carrega na perna algo que eu viveria enxergando como um peso, uma cobrança, uma culpa. Não sei lidar com o que pode ter (e tem) fim. Ou seja, só não sei mesmo lidar. Mas não, andava com uma leveza de quem deixa tudo bonito demais por onde passa. Mas sou só mesmo, expectadora. Platonicamente falando, admiro, sem reservas ou receios. Não mais. Quero deixar escancarado, caso venha a machucar. Porque dor é coisa que tem que ser sentida de uma só vez, pra cortar todo mal pela raiz. Sempre tive medo do que não era pra sempre. Mas resolvi deixar qualquer coisa me ferir só pra ver indo embora tempos depois. A sensação de ser deixada e conseguir acordar no dia seguinte, viva. É mesmo como se jogar do alto, acreditando que haveria o alguém lá embaixo, mas sabendo que seria só mais uma ferida aberta. O forte é isso. É esse, aliás. Acreditar de novo. E de novo. Não nos dois, ou três, ou quatro. Mas acreditar de novo em si mesmo. 
- Não adianta chorar por tudo. - Apareceu do nada - Não sei se adianta. Mas eu nunca choro. - Não fisicamente, literalmente. Mas anda chorando sempre, sempre. De dia, de noite, escondido. Até de você mesma. - Então quer dizer que é sábio o suficiente para me contar o que escondo de mim mesma? - Nem ficar agressiva adianta. Nada disso. - Você ou alguém quer me dar uma solução? - Tenha paciência. - Algo viável por favor? - Mais paciência. - Eu disse viável. - Durma, mas acorde. Saia, mas volte. Brigue, mas perdoe. Ame. - E... quer dizer, mas... - Só isso basta. - Jura? Vai dizer que não existem vários poréns nesse verbo? - Tem, claro que tem. Mas deixar de amar não te fará melhor ou maior. Dormir, desaparecer ou brigar, não te faz, necessariamente deixar de amar. - Nem sei porque rotulam tanto as coisas de amor. Nunca se sabe, exatamente o que é. - Ou então se sente receosa demais de amar de verdade. - Se eu sinto que amo, é de verdade. - Sim, eu acredito. Mas falo da