Eu não entendia porque todo mundo fechou as cortinas. Com um ônibus tão alto e com janelas enormes, eu só queria mesmo ficar por conta da lua. Eu sei que ando fugindo de um bocado de coisa, mas fugir pra lua sempre me parece uma ótima solução. Qualquer lugar que me deixe brilhando, ou que me esconda no seu brilho. O ônibus andava, corria, e eu sentia que era exatamente isso que eu queria: correr. Senti frio a ponto de sentir dor, foi como um acordar pra várias coisas. Mas das coisas unilaterais que a vida tem, percebo que se sentir sozinho é algo inevitável nesses casos. De ônibus gelado, fuga pra lua e vento forte embaçando o vidro, me dei conta de que solidão é algo que me acompanha de forma nítida. Não sei se porque quero. Não sei se quero. Mas sei que assim é. Quando não no físico, minha mente ainda viaja sozinha, perdida em certas multidões onde frase nenhuma, bebida nenhuma, cigarro algum faz sentido pra mim.

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