Debruço na janela, mas essa rede me espanta. Não faz nada, não corta, não repele, não machuca, mas espanta. Ás vezes eu só queria mesmo peitar melhor o que tem lá fora. Faço tudo tão correto, desço pelas escadas, encaro a porta e faço de tudo pra não bater forte. Ando sem incomodar e me sinto quase sempre incomodando. Minha regra é não dar trabalho. Ser só e suficiente. Mas vê, que nem a janela ás vezes, pode ser amiga. Nem os amigos sempre podem ser amigos. Eu conto com pontos de exceção. E faço deles a regra. Porque na verdade nunca tiram essa rede da minha janela. Na verdade as pessoas andam com pressa, fazem tudo bem correto, descem as escadas e não batem a porta porque há um bilhete dizendo que existem outros quinze apartamentos ali. Na verdade o normal é se sentir atrasado, centrado e dentro dos prédios, sentindo saudades de um outro mundo. Aquele, atrás da rede da janela.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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