Havia me apegado ao brilhante fato de estar distraída, e assim, condizer o quanto encantador pode ser admirar alguém e por acaso, talvez, mas sem pretensão alguma, ser admirada de volta. Pensando nisso, guardei a sensação ruim, de que, sabendo de tudo a todo tempo estaria perdendo tudo. E pior, estar distraída, seria então, não captar todos os detalhes? Porque não sei, não me controlo, mas quando assusto me pego contando mechas de cabelo e analisando cheiros no supermercado. Não vejo nada disso como ruim. Não quero ver. Porque além de todos os detalhes que não consigo resenhar em palavras, eu sinto que há uma distração nada intencional em assistir alguém dormir, em sentir gosto por cortar o dedo e não estar sozinha, em querer comer de novo e de novo o que ela cozinhou e em simplesmente acordar e dormir sem sentir frio. Acho que somos distraídas o bastante para viver em paz, três dias sequenciais como se fossem onze meses. Onze meses e é como se fosse ontem, tudo isso.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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