Utópica moda de ser livre, por um cigarro entre os dedos e copo meio cheio de bebida forte. Quanto mais forte, menos gelo. Quanto mais foda, mais erva. Quem conhece pó é o melhor. Em casa iogurte fino, videogame, edredon colorido, canais fechados, marca na blusa, tênis importado, inglês fluente, shampoo profissional, guitarra por hobbie, pele sensível, doença nas unhas, cirurgia plástica, viagens internacionais. Mas é radical escrever 4:20 no muro da vizinha pobre, que tem um filho da sua idade procurando emprego mas não consegue porque deixou a escola de lado e tem a cara preta marcada pelo preconceito. É radical hackear, trair, usar, cheirar, injetar, consumir, espancar, mentir, debochar, fingir e humilhar. E ainda cospe à meia boca que vive uma ideologia pura, baseada no natural e na igualdade, nas lições do passado onde gritavam paz, amor, sexo e rock and roll. Tsc tsc.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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