Desci a rua a passos lentos, deixei o vento gelado bater no corpo inteiro. Costumava olhar profundamente os olhos de quem cruzasse meu caminho, geralmente nos ônibus que voavam pela rua na madrugada, tentando decifrar a essência de cada um, querendo descobrir a história de cada ser. - Será que todos sofrem? Todos choram pela semana? Quantas vezes? Será que essa rua chora junto? - soavam em mim tantas desesperadas perguntas. Desci mais lenta ainda, quando ouvi um ônibus chegando, ia cruzar meu caminho. Olharia o rosto e os olhos de cada passageiro durante a fração de segundos que ficariam diante de mim? Não. Deixei e olhei para as luzes do ônibus que iluminavam a rua inteira. Me deixei ser observada, espionada, vigiada até por cada um que estava lá dentro. Ficaram as perguntas: Tentariam me decifrar? Tentariam procurar por meus olhos, na fração de segundos que ficariam diante de mim?
Escureceu a rua, o ônibus passou. Levaram as perguntas nas rodas traseiras, dilacerando letras e meu pequeno egocentrismo momentâneo.
Escureceu a rua, o ônibus passou. Levaram as perguntas nas rodas traseiras, dilacerando letras e meu pequeno egocentrismo momentâneo.
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Disse tudo!