Esperava ansiosa, com um leve pressentimento de que algo poderia estar fora do lugar. Sempre tenho comigo a tentativa de ser mais otimista e menos precipitada, desde que ela me mostrou que eu estava deixando de curtir a vida para curtir meu pessimismo exagerado. Fui ver a rua uma vez, pensando que, pela hora já deveria estar chegando. Nada. Entrei e saí novamente, cinco vezes consecutivas, até ouvir a voz chamando meu nome. Corri, vendo seu soluços contínuos e a mão fechada, o braço reto, armado. Nem precisaria perguntar vendo algumas feridas aqui e ali. Não sabia o que fazer. Falei, como uma tola, disse tanto, que depois me faltou o ar. Um abraço, uma pequena despedida. Me deitei, dormi profundamente. Não tive sequer sonhos, pesadelos. Porém quando acordei, senti um vazio tão grande... cinco da tarde, fim de domingo; seus braços machucados, pela raiva repentina, quebrou uma janela assim, do nada; o céu cinza deixava tudo mais sombrio ainda; indiscutível, inexplicável. Procurei por Deus, lembrando de como a vida está ao nosso redor. Eu sou a segurança, a paz, o colo que ela deitava quando as lágrimas chegavam. Ela é a minha segurança, a minha paz, e é também o colo que me consola com as palavras e mãos quando o desespero e a indiferença se aproximam de mim. Mas ali, naquela hora, não havia colo, não havia sequer paz. Haviam duas garotas, desesperadamente sozinhas, de mãos dadas, pedindo ajuda ou alguma resposta para duas vidas. Duas vidas escolhidas a dedo para se cruzarem. Assim como as fraquezas, a solidão interna de uma e outra, os problemas. Depois de acordar, ouvi a voz dela me chamando mais uma vez. Havia já um sorriso, sombrancelhas mais presentes e não pude conter um abraço-impulso. Vi nos olhos dela, que sim, provavelmente conseguíamos o colo tão necessário e sempre presente nessas horas. O colo Dele.

Foi como se deitássemos e aceitássemos as mãos Dele, limpando o rosto manchado de tanto chorar.

É, me lembro bem da voz dela, dizendo que nem sabia se Ele existia. Existe meu amor, é Ele quem vai cuidar de nós duas daqui pra frente. Limpa seu braço, seu rosto e olha pra mim. Se chorei, é porque há tempos não conseguia chorar nem dizer nada. Taparam minha boca sem eu ver, disseram que eu não podia chorar porque seria fraca. E fraca serei, se continuar aceitando ordens inconscientes. Pega minha mão, logo, tenha certeza de que nossas vidas, foram escolhidas a dedo porque nós, temos força o bastante para continuar, ou pra viver de verdade.

Comentários

J.V.Kaisen. disse…
Um texto tão forte que chega a ser desesperador. Me parece uma súplica de ajuda ao próprio leitor.

Muito bom.
Luiz Fernando disse…
Deus não dá fardos pesados para quem não dá conta de carregá-los. Isso é velho, passado e cosas más. Mas é a mais pura verdade. Deus dá forças para continuar.

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