Moro num quarto, repleto de janelas que ficam altas. Eu até as alcanço, mas geralmente aponto muito de vez enquando em uma, ou outra. No mais,  fico à espreita de uma estrela nova no céu, deitada na cama. Me lembro da noite, última noite que faltava para o recital, e eu olhava pro céu, tentando me lembrar do início de "Via Láctea", de Olavo Bilac. Só me lembro do final, que dizia: "Pois, só quem ama, pode ouvir estrelas". Sempre fui assim. As janelas eram altas, me davam certa preguiça. E a rua, sempre teve gente demais. Gente falsa. Gente bonita e gente feliz, que chegava, mas logo ia embora. Então, eu desconhecia bruscamente a parte do poema que mais me intrigava. E intrigava, porque desconhecia. Hoje, concluí ao lado da minha pequena. Dinheiro, pouco me move. Queria hoje algum, somente pra poder dizer que tenho teto e comida. Minhas roupas são tão minhas, que me olham estranho pela rua. Quero sim, ser querida, mas nada de obssessivo, quero sempre muita verdade no olhar de quem me rodeia. Meu corpo é fechado para visitas, se querem saber, nunca tente sentir o sabor de alguém, antes de ler nos olhos, e ouvir um pouco o que eles têm a dizer. Meus olhos nasceram grandes assim, realmente para olhar cada detalhe, de onde eu puder alcançar. Tudo que eu não consigo dizer, eu escrevo. Mas, na verdade... o que mais me choca, é sempre ter sido assim, sem anseios loucos de mudar tudo. Eu não posso ser outra, não é mesmo?

Comentários

J.V.Kaisen. disse…
''nunca tente sentir o sabor de alguém, antes de ler nos olhos...''

Adorei!
Sofia, disse…
Brigada Mayra!

Seu último texto está muito lindo! Pena que só dá pra comentar aqui...

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