Que a vida é curta a gente sabe, mas só olhando ao redor e vendo cada vez mais perto, pra começar a dar valor de verdade.
Elias, Tomás, Humberto, Clarisse, Everton, Brenda, Khamyla, Karen, Rodrigo...
Diante de fatalidades, a vida da gente parece tudo, e as brigas, as raivas são todas comparadas à merda nenhuma. Morrer, é mais do que se pensa. Pra mim, na verdade, é como alguém ir em busca de outra missão, em um outro lugar, onde eu não mais poderei vê-lo (a). Mas saber que deixam corpos intactos, da forma que mais tememos ver, principalmente os nossos, causa dor. O quanto se pode proteger uma pessoa, quando do nada podem combater sua proteção? Diante do mundo, diante de tudo, vê lá se agora, vão pensar que os entes queridos só foram cumprir uma missão noutro lugar. Pensamos em nada. Lembramos de tudo. Faz sentido morrer?
Em tão pouco tempo de vida, vi amigos de escola se despedindo aos poucos, e indo embora. Sinto em parte, uma ponta de culpa, por ter sido a melhor amiga de um deles, que deve saber que escrevo sobre ele agora. Nem dava tanto valor. Eu tinha era medo de sentir muita dor, ao vê-lo na cama, fraco. A gente devia ter doze anos. No último aniversário, ele chamou somente eu e mais três amigos. Dei um boné e ele disse que foi útil, o cabelo já estava caindo. Me sentia uma inútil, por não saber o que falar. "Que isso Elias, vai ficar tudo bem". As aulas do ano de 2003 começariam no dia dois de fevereiro. No dia um, Elias foi internado. Ao longo de dois meses, disse a uma amiga: "Vou ficar sem comer. Até ele melhorar". Ela achou meu estranho e radical, mas eu não ligava muito pra comida. Mas durou dois dias apenas, e eu precisava ficar em pé. Nossa sala, havia se separado pelas escolas da cidade, as visitas à casa dele eram constantes, a mãe já perdia a lucidez. Juninho, era o rei da casa. Mandava na mãe, no pai e na irmã. Era líder da sala, tinha rixa com alguns garotos, promovia festas no sítio da própria família, onde deixava qualquer um entrar e não amarrava a casa, a piscina, o campo de futebol e o açude para pescar. A vida com ele era uma festa mesmo. Eu, óbvio tinha meu apelido: Magrela. Cada um tinha o seu. Ele comandava mesmo. No último mês, eu fui vê-lo. Por pouco não me reconheceu. Estava magrelo, como eu. Tentava abrir os olhos. Pediu a mãe para por uma camiseta. A amiga que foi comigo, a mesma que citei antes, se assutou. Se ele colocasse, nos assustaríamos mais. Segundo nossos amigos, ele era apaixonado por ela e perguntava frequentemente se havia algum garoto novo na sala dela. Mas tínhamos só doze anos, e isso, era o de menos. Um mês depois, ele se foi de vez. A sala se reuniu com a professora que havia dado aula no ano anterior. "Ele era um anjo", dizia ela. Não, ele não era. Ele era um garoto, como outro qualquer, era levado, mandão, até sacana. Ele era de verdade, falava demais, "era um cara legal". Era o Elias. Em tempos em que não usávamos orkut, no dia 14 de julho de 2003, não criaram nenhuma comunidade em homenagem. Uma semana depois, a mãe dele me deu um dos cadernos que ele começou a usar naquele ano. Foi o primeiro caderno em que comecei a escrever meus textos. E numa carta psicografada, ele dizia, com as letras que eu conhecia tão bem, "saudade, mas aqui, tá tudo bem, graças a Deus".
Elias, Tomás, Humberto, Clarisse, Everton, Brenda, Khamyla, Karen, Rodrigo...
Diante de fatalidades, a vida da gente parece tudo, e as brigas, as raivas são todas comparadas à merda nenhuma. Morrer, é mais do que se pensa. Pra mim, na verdade, é como alguém ir em busca de outra missão, em um outro lugar, onde eu não mais poderei vê-lo (a). Mas saber que deixam corpos intactos, da forma que mais tememos ver, principalmente os nossos, causa dor. O quanto se pode proteger uma pessoa, quando do nada podem combater sua proteção? Diante do mundo, diante de tudo, vê lá se agora, vão pensar que os entes queridos só foram cumprir uma missão noutro lugar. Pensamos em nada. Lembramos de tudo. Faz sentido morrer?
Em tão pouco tempo de vida, vi amigos de escola se despedindo aos poucos, e indo embora. Sinto em parte, uma ponta de culpa, por ter sido a melhor amiga de um deles, que deve saber que escrevo sobre ele agora. Nem dava tanto valor. Eu tinha era medo de sentir muita dor, ao vê-lo na cama, fraco. A gente devia ter doze anos. No último aniversário, ele chamou somente eu e mais três amigos. Dei um boné e ele disse que foi útil, o cabelo já estava caindo. Me sentia uma inútil, por não saber o que falar. "Que isso Elias, vai ficar tudo bem". As aulas do ano de 2003 começariam no dia dois de fevereiro. No dia um, Elias foi internado. Ao longo de dois meses, disse a uma amiga: "Vou ficar sem comer. Até ele melhorar". Ela achou meu estranho e radical, mas eu não ligava muito pra comida. Mas durou dois dias apenas, e eu precisava ficar em pé. Nossa sala, havia se separado pelas escolas da cidade, as visitas à casa dele eram constantes, a mãe já perdia a lucidez. Juninho, era o rei da casa. Mandava na mãe, no pai e na irmã. Era líder da sala, tinha rixa com alguns garotos, promovia festas no sítio da própria família, onde deixava qualquer um entrar e não amarrava a casa, a piscina, o campo de futebol e o açude para pescar. A vida com ele era uma festa mesmo. Eu, óbvio tinha meu apelido: Magrela. Cada um tinha o seu. Ele comandava mesmo. No último mês, eu fui vê-lo. Por pouco não me reconheceu. Estava magrelo, como eu. Tentava abrir os olhos. Pediu a mãe para por uma camiseta. A amiga que foi comigo, a mesma que citei antes, se assutou. Se ele colocasse, nos assustaríamos mais. Segundo nossos amigos, ele era apaixonado por ela e perguntava frequentemente se havia algum garoto novo na sala dela. Mas tínhamos só doze anos, e isso, era o de menos. Um mês depois, ele se foi de vez. A sala se reuniu com a professora que havia dado aula no ano anterior. "Ele era um anjo", dizia ela. Não, ele não era. Ele era um garoto, como outro qualquer, era levado, mandão, até sacana. Ele era de verdade, falava demais, "era um cara legal". Era o Elias. Em tempos em que não usávamos orkut, no dia 14 de julho de 2003, não criaram nenhuma comunidade em homenagem. Uma semana depois, a mãe dele me deu um dos cadernos que ele começou a usar naquele ano. Foi o primeiro caderno em que comecei a escrever meus textos. E numa carta psicografada, ele dizia, com as letras que eu conhecia tão bem, "saudade, mas aqui, tá tudo bem, graças a Deus".
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