Pela primeira vez, depois de muito tempo, senti o que é o tédio. Senti uma ponta, foi como nostalgia. E procurei analisar cada detalhe desse tipo de dor que mistura preguiça a tristeza. Quase me vi sem os pés, ou sem as mãos. Me lembrei das tardes sozinha no quintal, numa cidade onde não gostava muito de morar. Desenhava nas pedras de ardósia, contava histórias, cantava sozinha, e tentava imaginar como seria o mundo lá fora de casa. As ruas nos domingos e feriados eram sem graça, não havia nada e ninguém. Doía profundamente. Aquilo sim era o tédio. Não é isso que dizem quando não se tem nada a fazer e, continua-se conectado com o mundo num computador. Não é nem aquilo que dizem quando se tem somente preguiça. Tédio é o que sentia quando chegava naquela cidade do sul, fim de domingo, cansada de chorar, ligava a tevê e não conseguia mais parar de sentir dor e saudade. Era quando eu tinha uma janela que dava para os fundos, via uma casa pobre onde uma criança chorava sempre. Era quando eu contava quantos quilômetros eu estava longe de tudo que eu queria e nem um telefone bastava. Ora comia demais, ora ficava horas e horas sem comer. Ora dormia continuamente por doze horas, ora levantava pela madrugada chorando, buscando alguém que estava quatrocentos quilômetros mais longe. Era só um abraço que eu queria. E aquele dizer (mesmo mentiroso ás vezes) de que vai ficar tudo bem. Que fosse esse "ficar tudo bem" com minha morte. Eu só queria o fim do tédio. Mas hoje, a diferença foi que eu não estava só. Foi brilhante, ver a nostalgia se desvairando com aquele abraço, e com aquelas palavras: - "Não vai haver distância. Eu vou estar sempre aqui. E vai ficar tudo bem."
Eu falo como se fosse a primeira vez. Sinto medo como se tivesse ainda quinze anos. E já que falar tudo que eu queria não tá adiantando muito, não vai mudar... eu peço que faça qualquer coisa, pra eu não ver mais beleza em qualquer lugar ou coisa que tenha você. Grata.
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