"E há tempos
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção…"
Nem os santos têm ao certo
A medida da maldade
E há tempos são os jovens
Que adoecem
E há tempos
O encanto está ausente
E há ferrugem nos sorrisos
Só o acaso estende os braços
A quem procura
Abrigo e proteção…"
Ponto de ônibus, domingo, oito da noite. E eu escutei esse trecho, bem alto, vindo de um bar ali perto. Ainda é maio, mas o frio é muito por esses dias. Eu, procurando me proteger do mundo, de todos do mundo. Queria somente chegar em casa, vivendo a utopia da proteção sob muros e portas. Quando olhei ao meu lado, uma fila se formava, devagar. Homens que tinham como casa exatamente, o mundo inteiro. Colchonetes sujos, papelões, resmungos estranhos, rostos jamais identificados. Uma mulher sorria no início da fila com algumas sacolas e aos poucos, ia tirando um pão e entregando na mão de cada um. Outra, distribuía copos descartáveis, finos, com café. E assim, caras amarradas sorriam aos poucos, sumiam da fila, se sentavam pelas beiradas da rua. Momentos depois, a moça voltou, tentando montar uma outra fila. "Quem quer a mensagem?" - dizia com um bloco de papéis na mão. Alguns voltaram, permaneceram no lugar, outros se foram, satisfeitos. (...)
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