Lembrei dos meus 13 anos, 14, 15, 16 e os 17 também. Mias uma vez, toda essa choradeira. Dessa vez, pior. Na verdade, a última vez é sempre a pior. E lá estava ela disposta como sempre a me humilhar (e que disposição!), a lembrar de tudo que vai acontecer comigo (segunda as pragas que ela roga desde sempre). O motivo de toda e qualquer desgraça que aconteça aqui ou no resto do mundo, tem a ver comigo. Estão morrendo por minha causa. Ninguém, nem nada prospera por minha culpa! Respirei fundo. Mas mãe...
(nem sei porque ainda insisto em explicar)... Na verdade não conseguem
enxergar porque tento explicar, porque penso tanto neles, tento agir com
mais cautela... (Comecei a digitar, como um desabafo, quase tudo igual ao
que sempre sai, mesmo lembrando que Karol diria, e irá dizer, 'eu não vou
falar nada sobre isso') E ela grita, olhando pra tela, sem conseguir entender
o que eu escrevia, por trás de mim: Isso, vai lá gritar pro mundo que odeia
seus pais, fala mal de mim mesmo! Fala mesmo, e olha que a gente ainda
pensa em você hein!. Fechei todas as janelas, Saí. É, eu devia morrer.
Gritei, chorando, covarde e idiota levantando da cadeira, ao destino de
sempre. "Morre mesmo! Já não aguento mais mesmo! Vê se some de uma
vez menina! Morre mesmo!', escutei antes de bater a porta do quarto. Não
me mato por covardia. E se o fizesse, seria mais ainda. Soa tão falso todas
as idéias (plagiadas) e ideologias da minha mãe. Fiquei pensando se um dia
ela seria ela mesma, sem pensar na gente da rua. Chorei, como há tempos
não fazia. Faltou ar, suei, me acalmei. Não tinha mais nada que
expressasse a dor. Nem se me arrancassem uma unha. Essa dor é quase
eterna, não mudaria nada. Percorri minha adolescência em minutos. Quase
ninguém me conheceu de verdade. Concluí. E sempre estive sozinha. Karol
pode não entender isso. (Sim, estou com ela). Mas desde que toda essa
confusão (hoje esclarecida) começou dentro de mim, vivi em meus quartos
com som alto e escutando os gritos lá de fora. Eu não devia ter nascido. Me
considero um erro, desde que ouvi isso. E escrevi desde então. Sem muitos
motivos, chorei, tentando entender porque em lugar nenhum estava bom
pra mim, porque tantos gritos, porque eu não ficava bem em lugar
nenhum... Olhei pro teto, segurando meu urso. Não quero morar aqui. Falei
sozinha, enxergando quase nada, os olhos inchados. Voltei às lembranças.
Me comparava a uma cruz, eu correndo pela casa, com meus sonhos
escondidos em cadernos, num lugar minúsculo onde riam das coisas que eu
gostava. Chorei mais um pouco, me contorci na cama, me sentindo mais
covarde ainda. Escutei minha mãe assoviando lá fora, num sinal de vitória
que conheço há anos. Não acreditam que eu possa ser alguém na vida. E
apenas uma frase deixou isso claro. 'Mãe, eu sou lésbica'. O erro não é bem esse. O erro mesmo, foi ter nascido. Mas já que cheguei
aqui, o melhor a fazer é continuar caminhando. Sendo ou não um erro.
(nem sei porque ainda insisto em explicar)... Na verdade não conseguem
enxergar porque tento explicar, porque penso tanto neles, tento agir com
mais cautela... (Comecei a digitar, como um desabafo, quase tudo igual ao
que sempre sai, mesmo lembrando que Karol diria, e irá dizer, 'eu não vou
falar nada sobre isso') E ela grita, olhando pra tela, sem conseguir entender
o que eu escrevia, por trás de mim: Isso, vai lá gritar pro mundo que odeia
seus pais, fala mal de mim mesmo! Fala mesmo, e olha que a gente ainda
pensa em você hein!. Fechei todas as janelas, Saí. É, eu devia morrer.
Gritei, chorando, covarde e idiota levantando da cadeira, ao destino de
sempre. "Morre mesmo! Já não aguento mais mesmo! Vê se some de uma
vez menina! Morre mesmo!', escutei antes de bater a porta do quarto. Não
me mato por covardia. E se o fizesse, seria mais ainda. Soa tão falso todas
as idéias (plagiadas) e ideologias da minha mãe. Fiquei pensando se um dia
ela seria ela mesma, sem pensar na gente da rua. Chorei, como há tempos
não fazia. Faltou ar, suei, me acalmei. Não tinha mais nada que
expressasse a dor. Nem se me arrancassem uma unha. Essa dor é quase
eterna, não mudaria nada. Percorri minha adolescência em minutos. Quase
ninguém me conheceu de verdade. Concluí. E sempre estive sozinha. Karol
pode não entender isso. (Sim, estou com ela). Mas desde que toda essa
confusão (hoje esclarecida) começou dentro de mim, vivi em meus quartos
com som alto e escutando os gritos lá de fora. Eu não devia ter nascido. Me
considero um erro, desde que ouvi isso. E escrevi desde então. Sem muitos
motivos, chorei, tentando entender porque em lugar nenhum estava bom
pra mim, porque tantos gritos, porque eu não ficava bem em lugar
nenhum... Olhei pro teto, segurando meu urso. Não quero morar aqui. Falei
sozinha, enxergando quase nada, os olhos inchados. Voltei às lembranças.
Me comparava a uma cruz, eu correndo pela casa, com meus sonhos
escondidos em cadernos, num lugar minúsculo onde riam das coisas que eu
gostava. Chorei mais um pouco, me contorci na cama, me sentindo mais
covarde ainda. Escutei minha mãe assoviando lá fora, num sinal de vitória
que conheço há anos. Não acreditam que eu possa ser alguém na vida. E
apenas uma frase deixou isso claro. 'Mãe, eu sou lésbica'. O erro não é bem esse. O erro mesmo, foi ter nascido. Mas já que cheguei
aqui, o melhor a fazer é continuar caminhando. Sendo ou não um erro.
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