O tédio me engolia aos poucos. Barulhos, barulhos, gritos. No quarto, claro e alto, eu queria subir pelas paredes, louca. Um alicate de unha, o som alto, mas nada. Não farei nada. Eu disse que não iria chorar. Não o fiz. Queria me divertir, só. Só com um elefante no chão, um urso novo mas cheio de história pra contar. Lembrei da agulha, aquilo era divertido há anos atrás. Agulha, linha e mãos. Comecei a costurar pouco a pouco em minha mão, sorrindo sozinha, patética. As vezes lembrava daquele sentimento de rejeição, o motivo de querer me afundar ali mesmo. Lembrava que me esqueceram facil demais. Lembrava de tudo, nos últimos dias. Mas acreditava que por segundos, esqueceria tudo. Costurando, sem perceber o quê, afundava a agulha no pulso, e achava engraçado nao sentir nada na palma da mão. Três minutos depois, saiu o que estava preso. Não entendi porque tudo aquilo. Mas pudera. Poderia ser Kampf. Poderia ser qualquer outra coisa com 'K'. Mas não era isso. Lá estava, a letra. Apenas um símbolo. Mas com enorme e complexo significado.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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