Queria uma cena assim.

Chego em casa, cansada, um dia qualquer. Todos ao fundo, como sempre falando, falando, minha família é assim. Um garoto joga a bola na parede, outros dois se unem para punir o pequeno. Gritos, eufóricos, discussões, minha vida é assim. Minha mãe tenta me contar sobre uma roupa nova, uma garota como eu, e meu pai, fala sobre todos os cursos que pretendem fazer na faculdade, até do pequeno que ainda nem sabe quem ele é. Vejo tudo, aquela confusão, aquela euforia, somos assim.
Vou em sua direção, olhando fixamente e pensando em apagar todas as suas palavras tão acadêmicas e tão formais, essas que me deixam pesada demais pra aguentar ouvi-lo.
Me vem um telefone, voando, pelo alto, minha mãe chora, e eu, com meus oito anos, grito, pedindo pra que parassem.
Sorrio tentando acalmá-lo, o que quero é simples e bem, não dói nada. Um sorriso de boa noite, um passo a frente e fico cada vez mais perto.
Eu, de calcinha, há minutos atrás brincava no quintal. Me puxou pelo braço, ameaçou me levar. Mais um pouco de gritos e ameaças, já estava no meio da rua, minha mãe sem forças pra pedir ajuda.
Esqueço tudo, não há mais nada. Fecho os olhos, é só um abraço, não vai machucar, não vai. Sei que todos vão me olhar, vão querer saber e não vão perguntar. Sei que parece estranho, mas agora é assim, está sendo assim. Calma, é só um abraço, eu aprendo a abraçar. Mais um passo, paro de sorrir. É só abrir os braços, é só isso. Vai! Vai!
Passou, espero que sim. A gente aprende a se abraçar a cuidar um do outro. Era assim que eu queria.
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