Fiquei a olhar a imensidão daquele lugar, que confesso, era bonito, luxuoso, eu só havia visto pela tevê, mas não me fazia bem. Aquela mansão, eu no jardim, só queria estar noutra casa, que fosse a dos meus pais, bem pequena. Ninguém me via, tampouco me ouvia, minha mãe me encheu de carinhos que eu não queria comprar, pelo preço ser alto demais... Meu irmão chutava uma bola no campo e, conversando sozinho e narrando o próprio jogo, dizia que o juiz mandara repetir o lance porque ele havia errado. Meu pai virava copos e me sugava com os olhos, parecia satisfeito, pois eu, estava insatisfeita. Fiquei no mesmo lugar, durante quase todo o tempo, como se não houvesse espaço que me coubesse, mesmo que aquela casa fosse enorme tanto lá fora, quanto lá dentro. Durante o dia inteiro, conversei com todos, sem olhar nos respectivos olhos. Deu no que deu. O dia, terminou em chuva.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
Comentários
Moral da historia: 24h são exatamente o que precisamos rs