Saí correndo pelo portão, atrás dela, com a dor dos estalos na perna. Haviam sidos tapas atrás de tapas, risadas intercaladas e nada caladas na frente do meu irmão. A gente começou do nada, como sempre, e de repente eu já estava subindo a rua me desculpando pelo tapão que dei, nas costas. 'Sempre acaba assim, emburrada', eu disse. Mas voltamos a sorrir.
Naquela 'mais uma volta' pra casa, senti uma coisa diferente, como uma sensação que há tempos eu não tinha. Tudo parecia novo, mesmo sabendo que devia ser a centésima vez que eu subia aquela rua sem asfalto. Me lembrei das brigas, as vezes que, num dia só, subi e desci oito vezes com ódio, medo e amor. Lembrei das noites desesperadas que eu chegava de viagem e, ainda com o banho da manhã eu te abraçava com a saudade matando. Lembrei das vezes em que subimos felizes, e descemos tristes ou com raiva, e vice-versa. Lembrei da vez que tentou por um fim em tudo, e até pôs, mas aí me lembrei do dia em que voltou pedindo um abraço, sentada num banco, tinha saudade. Foi ali, naquela rua, onde usava o telefone público, pra falar comigo quando eu estava à quase 400 km de distância. Foi nessa rua, onde eu te esperava quando conversava com um amor antigo, chorava, sorria e eu assistia à tudo. Foi por ali que me entregou um lírio, e depois, com medo do futuro, explicou que 'não tinha nada demais'. Foi ali, subindo mais um pouco, que aconteceu aquele beijo. Aquele, o primeiro, daquele dia. Foi naquela rua, que eu voltei com ciúmes de um monte de gente, um monte de uma vez e eu não sabia como fazer nada. Tudo nosso, foi intenso, é intenso e vai ser intenso demais. Se essa rua falasse... contaria uma magnífica história, a nossa.
Um ano, e estamos aqui, de novo. Digno estar no mesmo lugar, pra poder lembrar como eu lembrei. Mais digno ainda, é ir embora, em busca de liberdade e crescimento, e poder voltar um dia, com orgulho de cada segundo vivido.

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