Procuro observar as sombras, de cada cômodo, para me certificar que são somente sombras. Eu sei que serei forte pra estar sempre certa de que não há mais nada fazendo barulho, a não ser os carros lá fora, as folhas se mexendo no jardim, e foi exatamente por ter essa certeza, que deixei minha janela aberta. Eu serei forte, para que quando não for somente sombras, e folhas se mexendo, ou não for algo que caiu do nada de cima da estante, eu vou vou sim, me levantar diante do que for, e vou encarar. Dizer que faça o que quiser, que vou estar protegida, por Deus. Dizer que sou muito ignorante para simplesmente pedir que siga uma luz, e posteriormente pedir que Deus mostre uma luz, e que siga. É, siga, e por favor, me deixe em paz. Talvez, nada do que eu diga agora, não faça o mínimo sentido. Eu queria que não fizesse. Mas já que cheguei até aqui, eu vou continuar. Eu hoje, prefiro conferir em cada detalhe do meu quarto, em cada lágrima minha que cai muitas vezes, sem motivo, em cada grito que dou e que escuto. Em cada sonho, cada dor inesperada, cada falha de memória. Eu não quero transferir a culpa a ninguém. Mas tudo indica a isso. Tudo me leva a isso. E digo, concerteza, que se tocar em alguém que amo, mostro o monstro que guardo dentro de mim, que escondo atrás desse corpo aparentemente frígido, quebradiço, efêmero.
Eu falo como se fosse a primeira vez. Sinto medo como se tivesse ainda quinze anos. E já que falar tudo que eu queria não tá adiantando muito, não vai mudar... eu peço que faça qualquer coisa, pra eu não ver mais beleza em qualquer lugar ou coisa que tenha você. Grata.
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