Existem coisas que acontecem bem a minha frente, e eu acabo me perguntando o sentido e o porquê delas. Depois de um ano e meio, meu quarto está vazio, somente alguns violões, bolsas e o computador, tocando "Sereníssima". Parece pouco tempo, eu sei. Mas nunca, antes, vivi tanta coisa diferente na minha vida inteira, dentro de um quarto como esse. Brigas, a solidão necessária, a solidão covarde, a angústia, a alegria também com suas respetictivas raízes, desejo, planos e virtudes pelas paredes.
Meu irmão, que hoje faz nove anos se senta noutro canto e toca violão.
Sabe, eu gosto da minha história. Desse bocado de merda que já aconteceu também, afinal, tudo está mais ou menos ok agora. Amo minhas voltas por cima, minhas renovações, minhas lágrimas de alívio, meus gritos de desejo, minha entrega complicada e sempre extremista.
Mas, voltando às coisas que acontecem, sei que ficou vago, vou explicar.
Sempre amei o jardim dessa casa que hoje deixo. Era o que mais me curava nas horas de solidão intensa. Nos dias em que eu realmente não tive nada nem ninguém. Era pra fora que eu ia. Me sentava num tronco que fica no chão, e olhava ao redor, verde e singelo. Não é nada grande, mas sempre foi suficiente. Ganhei flores e tentei plantar ao redor de algumas árvores, em outros canteiros. E elas morreram. Meu pai comprou lírios, gérberas, ganhei outras também, lírios laranjas, hortênsias. Mas nunca deu certo. O cachorro comia, a terra não nutria. Pois bem. Hoje, meu último dia aqui, entre as tantas caixas e sacos plásticos, entre a nostalgia de fotos perdidas, de livros de épocas minhas, nossas. Vejo que no jardim, no meu lindo jardim nasceram flores. Num canteiro inteiro, onde haviam apenas folhas longas, agora parece uma mureta com o alto roxo, como coroas. Foi necessário apenas uma noite, uma noite pra que elas escandalosamente preenchessem o verde com roxo. É, roxo. Logo roxo. Fiquei olhando, tentando entender. Tarde, foi tarde essa entrega dele. Delas. Não consegui explicação. Só pude pegar uma câmera, contar ao meu amor a novidade, e registrar pra sempre.

Comentários

J.V.Kaisen. disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
J.V.Kaisen. disse…
Belíssima foto. E um belo texto. Espero que você encontre a mesma paz que encontrava em seu jardim. A mudança dói, mas, às vezes, é necessária. Sorte!

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