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Havia um vidro e eu me encostei. Ouvia o telefone no banco da frente, e ele falava sobre os negócios, claro. Negócios que o cara teria de fazer pra ir bem na empresa. Foi aí que a chuva começou. Mormaço ali dentro, eu que sempre sinto frio, queria pegar um pouco de chuva. Olhei pra cima e conseguia enxergar os pingos caindo sobre a janela. Foi divertido. Me lembrei dos meus cinco anos no banho, enfrentando o chuveiro: olhava pra cima e tentava conversar com a Téia. Parece que ela me protegia de alguma forma. De me engasgar por exemplo, enquanto conversava sobre a filha que eu teria quando crescesse. Ás vezes minha mãe passava e perguntava: - Com quem você tá falando? - Com a Téia mãe!. Ela sorria e saía. Eu sempre falava tudo pra Téia e ela sempre acreditou em mim. Contei sobre os tapas e puxões de cabelo que levei da babá. Só ela acreditou. Ela me ensinou um bocado de coisa naquela casa, antes de ir embora de vez. Nossa casinha era desmanchada sempre que minha mãe via as cobertas por cima das mesas e das cadeiras. E no dia que minha mãe disse que ela teria que ir embora, foi. Ela escutou os gritos e os tapas que levei por ter feito cocô no guarda roupas. Minha mãe gritava que já que a Téia que tinha mandado, que fosse embora e não voltasse nunca mais! Estremeci. Aí eu percebi que seria um bocado sozinha. E fui. Mas acho que não foi tão ruim assim. Voltei pra chuva e lembrei que continuava protegida, de alguma forma. Tinha o vidro da janela. Tinha outras coisas também. Um futuro promissor se eu quiser. Com a Téia que todo mundo pode ver, conversar e acreditar. Incrível como eu gosto de acreditar em certas pessoas. As que me dão credibilidade, claro. Ás vezes eu acho que naquele dia que ela se foi do meu quarto, ela prometeu voltar uns quinze anos depois. E eu deveria aprender a me proteger sozinha, devia ser isso.

Comentários

J.V.Kaisen. disse…
Seria ótimo se todo o mundo tivesse um ''Téia'' com quem contar! ótimo texto, como sempre!

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