Toma lá tento garoto, eu dizia. A vida mal começa e já quer extrapolar? Dizia nada, mentira, furada. Eu o escutava com seu jeito engraçado de ser, dançando pela casa e me calava. Um pequeno príncipe misto com peter pan. Não cresceria nunca. Talvez por isso eu dizia que a vida estava chegando para ele. Aí alguém me disse: chegou, há tempos. É essa mania de achar que bebês não crescem. E o menino cresceu. As brincadeiras que minha mãe dizia que ofendia, o fez mais duro e com respostas na ponta da língua. Os olhares meticulosos, as viagens junto com a solidão, o deixaram esperto, preciso, um homem-menino. Menino porque se chega, se esbalda, quer cantar, imitar e deixar todo mundo com dor na barriga de tanto rir. Mas a vida é dura rapaz. E quando menos se imagina, há um monte pra carregar. Ofensas nem são nada. Eu vi, vivi e senti. Eu carreguei também. Se hoje te acho um homem, pelo que é, o que foi e o que construiu dentro desse peito, é que eu vi crescer um garoto perguntador e falador que poucos conseguiam escutar por muito tempo e ele foi aprendendo a ouvir mais. Mas o que queria, queria, não havia outro jeito. O que era, era. Tinha que ser, pápum. E nada de vergonha na cara. Pra que vergonha na cara? Eu nunca fui de concordar com vergonha na cara. Se você é o que é meu filho, acorda, se esconder atrás de mureta não rola, um dia o sol bate, a sombra te denuncia e aí você se queima fácil fácil! O homem que eu disse que vi crescer hoje sofre. Eu sei que sim. Aprendeu foi comigo a esconder atrás do riso e das piadas hilárias que sabe fazer? Só quero que saiba menino, que sem se importar com o caminho, o destino, pode olhar ao redor. Diferente do resto do mundo você tem com quem contar. Não conte tudo! A vida é sua e aprendemos até aqui a arcar com as consequências da vida. Mas um colo, um abrigo, o amor que nasce dentro de um lar, é bem mais forte que qualquer força que queira quebrar.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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Texto tocante.