Me pego desenhando embalagens e salas, coisas tão técnicas que ainda não consigo ver a graça e o prazer que sei que tem. Em algum lugar, deve haver graça. Talvez porque antes, havia muita graça e vida, e não havia um nome "carreira" embaixo, esperando o fim absoluto das obras tão mesquinhas. Mesquinhas sim, eu sei até onde vou. Mas e aí, me faz uma falta danada escrever. Sobre tantas e tantas mil coisas que acontecem comigo por aqui, onde tudo é novo. Antes, eu escrevia com tal gosto, falava de dias normais, e das dificuldades em que eu, imatura e feliz, pensava que era sempre o fim. Foi o fim de fases, mas sabe, continuo por aqui. Fiz dezoito anos, não mudou muita coisa. Fiz dezenove, continuei namorando a mesma pessoa e, olha que beleza, fiz vinte e estou morando há cerca de 70 quilômetros de distância dela. Larguei um curso que odiei começar, mas deixei por lá uma mãe e uma tia, das quais não vou me esquecer nunca. E se Deus quiser, ainda encontro as duas em algum lugar desse mundo. Eu continuo acreditando no amor. Eu deixei algumas coisas encaixotadas, como minhas bonecas, meus apetrechos aos quais eu recorria quando a dor era intensa demais. Parei bastante de chorar. E isso não é muito bom. Eu fui fria demais por um tempo, questionei inclusive minha existência, mas pensei: já que nasci, bola pra frente. E aí percebi que a vida tem sim sentido, você tendo alguém te amando ou não; você tendo dinheiro ou não; você amando ou não... Tem todo o sentido do mundo. E não, não estou falando isso à toa. É que vi tanta gente diferente até aqui, eu ouvi tantas frases complicadas, angustiantes até hoje, diretamente pra mim, cuspidas, escarradas, malcriadas, tolerantes ou lindas e também duvidosas que me sentei, e pensei que se fôssemos todos mesmo iguais, falaríamos as mesmas merdas por aí, sentiríamos as mesmas coisas e nunca, nunca haveria sentido algum viver. Mas eu sempre preciso escrever para concluir certas coisas. Claro, certas coisas bem medíocres também. Eu descobri que sou assim, medíocre. Fico sempre no meio, sempre exigindo mais das minhas pernas finas, que caminhem mais e mais. Mas talvez, se eu tivesse um corpo mais volumoso, talvez eu não aguentasse correr também. Há sempre um pedra no sapato. No seu, no do seu vizinho, no da sua mãe. Sempre. Mas faz todo o sentido do mundo, porque no dia em que eu tiver que correr descalça, vai saber essa vida louca que me espera, eu vou saber correr que nem moleque de rua, daqueles que pulam muros, roubam pelo prazer de comer, cheirar, viver, amar a final, pode deixar, eu conto tudo em algum lugar por aqui, com detalhes e faço uma foto com os pés machucados, mas sorrindo é claro.

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