Essa rotina fácil de quem levanta, toma o café, e só volta para almoçar e jantar. Vivendo em multidões solitárias, me perco olhando pregos, becos, janelas. Isso tudo me afaga, como se qualquer objeto cortante fosse me confortar. E a cada gritinho de socorro que dou, penso que dar trabalho aos outros é coisa feia demais. Me fecho, e aprendo a dar sorrisos contínuos, a falar sobre novela, filme novo, aquele ator bonito. Não há nenhuma conclusão. Não aprendi tudo ainda. Não sei direito de onde tirar a espontaneidade, o sorriso fácil pra qualquer um na rua. Tudo aqui me parece plástico demais. O corpo, as unhas, o cabelo e o coração pegando fogo, derretendo e queimando tudo por dentro.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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