Ontem parei pra perceber. Minhas unhas crescem continuamente, parei de roer. Não há mais ansiedade, nem estresse que cause tantos machucados na minha boca, nas minhas mãos. Meus dedos nem sangram mais. Meu cabelo voltou a ficar de bem. Eu voltei a comer normalmente, e não sinto mais dores no estômago. Meus trabalhos foram todos feitos. Eu sinto sono, fome, medo, carinho, alegria, raiva, tesão, euforia. Viva, finalmente mais viva.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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