Podia ser somente mais uma festa de família, da qual eu teria ótimas lembranças (e terei!), fotografias e essa fraternidade plena que surge de dentro de mim, ao reencontrar parentes e amigos que fico sem ver e conversar por anos. Mas aí, esse samba lá fora, a embriaguez que agora, com tal idade eu exalo, meu sorriso não mente. A gente cresce até o dia em que resolve amar. Depois disso, os olhos vão ficando cada vez mais fundos, o rosto empalha um sorriso e uma feição automática daqueles que sofreram demais. A vontade de reamar me fez andar por aqui, em cada canto, observando coisinhas que há tempos eu não reparava. Já não faz mais frio, e o vento só me deixa um pouco arrepiada, consequência da minha velha mania de procurar um casaco por aqui e ali. Na verdade, é esse gosto por abraços que tenho. E preciso aprender a viver sem tantos abraços. Ficar sozinha, comprar mais edredons. Pareço dramática se eu disser que só tive um amor. Mas lá fora, um bando de "tios e tias exemplo" dançam e sambam, cantarolando histórias tão tristes. E eu posso captar toda essa energia. Eu, particularmente clamo por renovação. Eu podia mesmo continuar pedindo pra ficar sozinha. Podia dar um chute na bunda desse tal amor. Que seja amor próprio o que eu estou falando. Que seja amor, desses simples, paixonites agudas e repentinas. Eu podia enfiar o chute na porra de qualquer um desses sentimentos. E era exatamente o que eu pensava em fazer. Mas aquele copo com bebida escura, sempre me faz (re)pensar. E foi andando nesses jardins bonitos do lugar em que estou, que cheguei no fundo do terreno, na frente de um lago simpático e olhei pra cima. A noite mal começava, e o céu estava totalmente estrelado. Pois é, foi quando eu disse que não iria mais ver estrelas em porra de lugar nenhum que elas me aparecem. Não fiquei esperando nenhuma cair; não esperei nem pedi nenhuma estrela cadente. Confesso que um nome me veio à cabeça. Mas eu guardei em silêncio, dei mais um gole e voltei andando, ouvindo a música cada vez mais alta.
Eu comprarei mais edredons. Eu terei sim frio, sem abraços e sem noites quentes. Mas a gente sobrevive. E acorda de novo, pensando em amar outra e outra vez.
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