Entre copos que exalam verdades, a bebida descia amarga no início. Mas depois de um certo tempo, certos goles somente me esquentavam. Nem sei como permaneci com um vestido tão curto, sentada, pegando vento. Sei que a um certo ponto, suas palavras me sustentaram e provavelmente me esquentavam também. Foi digna de ser enterrada naquele quintal, como uma lembrança, que embora embriagada, tinha um borrão como nos sonhos que tenho. Um borrão, como as nuvens que escondiam a lua. Eu buscava uma referência, alguém conhecido pra firmar meus olhos, mas ela estava escondida. Olhei pro chão, arranquei plantinhas, segui o copo que ficava vazio, mas não deu pra escapar, voltei a olhar pro seu rosto, de onde saía tudo que eu queria ouvir.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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