As flores que plantei naquele jardim, daquela casa, eram como frutinhos. Cada vez que meu pai chegava com um lírio da feira, ou do dia internacional da mulher, ou do dia que ele fazia compras ou mesmo quando era meu aniversário, eu guardava o vaso num lugar e já pensava num lugar pra replantar. Um semestre de agronomia não me ajudou em quase nada, nem mesmo a replantar flores. Mas eu ia com a cara e a coragem. Eu me lembro dos lugares que plantei, e de como cuidei delas. Eu, que nunca tive tanto apego a um quintal, passei tardes deitada no jardim, desenhando e dormindo. Talvez por isso eu tenha tido tanto cuidado. Mas vê, como as coisas são, quando me lembro que fui embora e desapeguei de um lugar tão meu, e que me fazia tão bem. Eram dias difíceis ali, e eu buscava lá fora, qualquer coisa pra alimentar a ponta de alegria que ainda restava dentro de mim. A cada toque de carinho do meu pai, eu regava e esperava florescer. Mais e mais. Meu pai sempre foi a figura mais romântica e ao mesmo tempo, mais difícil que eu tive tão perto de mim. Não é fácil conquistá-lo, mas ele passou a trazer as flores, sempre dizia que o refrigerante de laranja era pra mim e aprendeu a comprar chá e cappuccino nos dias em que eu chegaria em casa. Eu tentei explicar o dia em que senti amor por alguém e ele não entendeu. Mas a cada lírio que plantei, deixei uma gota de esperança de que um dia, ele e minha mãe entendessem do que se tratava. E independente de tudo, no dia em que senti meu coração fora de si, eu pedi a minha mãe (que era sempre tão dura com as palavras) pra dormir na cama dela, e lembro de ter apertado as mãos do meu pai com força. Ele, depois de uns dias, percebeu que eu havia emagrecido. Foi como com as flores. Eu plantei, e disse exatamente o que sentia, com intenção de que algo bom florescesse. Não sei, mas acredito que hoje eles entendem em partes como foi difícil deixar aquele jardim e deixar que o mundo orientasse a flores dali em diante. Como foi complicado e doloroso, desapegar das tardes em que eu desenhava e dormia no jardim, esperando que a dor fosse embora junto com a chegada de qualquer pessoa que dissesse me entender. E aí, hoje eu sinto falta de um novo jardim. Porque eu quero voltar a plantar todas as coisas boas que eu sinto, com uma flor em cada lugar diferente. Eu cresci um tanto que devo a eles e a elas, todas essas coisas boas que sinto a cada dia.
Eu falo como se fosse a primeira vez. Sinto medo como se tivesse ainda quinze anos. E já que falar tudo que eu queria não tá adiantando muito, não vai mudar... eu peço que faça qualquer coisa, pra eu não ver mais beleza em qualquer lugar ou coisa que tenha você. Grata.
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