Voltei a dormir de tarde. Mas não do jeito normal, nem sei se alguém na minha vida sabe como o sono é meu refúgio. Tudo bem, mania de reclamar essa minha. Mas minha cabeça anda a mil por hora, como eu gosto. Só não podia sobrar tempo pra dormir tanto, a ponto de pensar. Pensar que ainda tenho trabalhos e que me sinto um tanto incompetente. Tá, meus trabalhos estão bem feitos até, organizados, posso argumentar sobre todos. Mas quero ser sempre melhor, sempre. E sempre nisso me ferro um pouco pela ansiedade. Eu sempre tenho pressa e preciso me esforçar. No mais, vai tudo bem. Eu queria deixar de pensar no que tenho que fazer com tudo aqui dentro e peguei no sono. Ás quatro da tarde, e zaz, são quase sete da noite. Melhor acordar, acender a luz. Peguei o resto de chocolate em cima do criado e fiquei rindo sozinha. Que tipo de pessoa morde a trufa e rasga o céu da boca com o chocolate? Eu. Sou bem esse tipo. Que não gosta de doce, que promete ver o que tem de bom na cidade e deita, sozinha, dorme. Que horas essa vida vai me acordar de vez?
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
Comentários