Vejo pela janela do quarto que... é, não tem muito jeito. Estou esquecendo que envelheço também. Que essas cortinas me viram crescer. Principalmente eu, que sempre vivi dentro do quarto. Ninguém mais me conhece tão bem, como as cortinas, o espelho sujo com adesivos velhos, as mesmas fronhas coloridas (hoje com as cores bem mais opacas). Opaca eu que estou. Desculpem-me. Eu continuo voando... mas entre pousos e pousos chega a me dar uma ponta de vontade de parar de vez. Olha, as cortinas nem cor de creme são... já não fazem sentido aqui. Nem as cortinas, nem meus desenhos espalhados pela parede. Apenas os valores que conquistei na época em que ficava trancafiada no quarto. Elas sim fazem sentido. Mas eram exatamente elas, que me mantinham tão feliz, mesmo sendo sozinha. Envelheço dentro do quarto, mas minha mente, ah, essa vai longe. Ela é o pajarito.

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