(...) O menino curioso demais, entrou no quarto correndo. Incrível quarto da irmã mais velha, que ficava fechado sempre e tinha um tom escuro e sombrio certos dias. Já que ela não estava e tampouco deveria chegar naquele momento. Ele sabia que ela tinha uma coleção, mas não sabia de quê. Ouvia dizer por aí. Esse era o ponto alto da curiosidade. Entrou e correndo olhava nas gavetas, no armário, depressa, deixando tudo fora do lugar. Sabia que no final, ela veria a bagunça, mas já estava acostumado com a cara fechada dela, com os abraços frios e os gritos que espalhavam pela casa inteira. Não encontrava nada, mas via num canto, uma parede escura com algumas coisas penduradas, como quadros. Foi chegando mais perto, mesmo cético, afinal, "devia estar dentro de caixas, enfiadas em algum compartimento super escondido". 

Um barulho lá fora e ele não conseguia sair do lugar. Tinha os pés presos ao chão. Conhecia até os passos dela e podia ter certeza de que levaria um tapa na cabeça, onde ela alcançaria com maior facilidade no momento em que ele corresse. Mas foi diferente. A menina chegou com algo nas mãos, enrolado em um pano, e se quer olhou pra ele. Entrou no quarto, olhou pras coisas fora do lugar. Acendeu a luz. Apática sentou-se na cama e o viu contemplar vários quadros com pessoas na parede do fundo. Fotos, desenhos, datas, como registros de dias aparentemente comuns, palavras jogadas. Até uma foto pequena da mãe estava ali. E pessoas que ele se lembrava, mas que não via a tempos. 

"- Quer ver a coleção?" - inédito. Fez que sim com a cabeça. Ela desenrolou um quadro de um pano, com mais uma foto de alguém que ele já tinha ouvido falar.
"- Me mostra, é de que?" - o irmão ainda não entendia. Pequeno demais.
Ela apontou pros quadros, e começou a pregar mais um na parede. O mais novo.
"- Coleção de quadros? Fotos? Ah... que sem graça..." - riu de lado, se achando um bobo pela curiosidade. Saiu devagar do quarto, deixando em paz de uma vez por todas.
- "Não. Coleção de decepções." - disse encaixando o quadro à parede, as unhas roídas, já sem esmalte.

Contabilizou a quantidade. Tinha ganhado mais uma aquele dia. Prometia jogar tudo fora, mas precisava ainda, esperar. Outras haveriam de chegar. Era melhor se livrar de todas de uma vez. Apagou a luz. Encontrou a cama sozinha no escuro. Dormiu pra esquecer. 

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