Sigo treinando meus poucos vocábulos em espanhol pelas ruas. Nem liguei pro frio, quando vi que na rua que passo todos os dias um ipê já floresceu. Ontem mesmo, durante o banho, tremendo e com unhas roxas (como sempre) pedi que o verão viesse logo. Eu era a única naquele lugar, de jaqueta. Quase sempre uso as escadas, pelo menos três vezes ao dia encontro com os degraus. Sigo esquecendo de levar a sacola ao mercado, à padaria. Volto com tudo nas mãos. Carteira, chaves, papéis, margarina, coca cola pequena e um punhadinho de solidão. Eu voltei. Mas descobri que tudo acaba sendo bem melhor assim. Cheio de punhadinhos, esperando o sol vir com mais força.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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