Por um passado que me faz perceber que tudo melhora, busquei abrir a janela, mesmo que chovesse dentro de casa, lembrando das coisas que durante tanto tempo fingi que não vivi. E questiono o porquê de sentir tanta falta de ser criança, se hoje o que me arrebata é ter a verdade nas mãos e conseguir entender mais da metade do que eu perguntava, olhando pra cima a cara de bravo de pai e de mãe. Segurava no bolso de trás, que era muitas vezes o que me restava e tentava andar no mesmo ritmo que ela, chegava a fechar os olhos pra conseguir correr mais rápido. Podia ver a novela que eu quisesse se fizesse companhia, esperando pai chegar de madrugada, via sexo, morte e ás vezes esses tapas técnicos de novela. Mas tive que encontrar uma revista velha pra perguntar um tanto atrasada, por que é que a gente sangra todo mês. Podia beijar os meninos, se quisesse esconder e escolher. Mas não queria. Não queria meninos, não queria scarpin, não queria que o Elias fosse embora, não queria dormir sozinha, não queria morar mais naquela cidade, não queria carnaval. E eu sempre soube do que não gostava, era mais madura, talvez, do que hoje. Não era a infância, era eu. Me quero de volta. Nem que seja um tantinho.

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