Consegui um travesseiro maior. Mais fofo. Uma delícia. E eu, que nem ligava de dormir sem um. Nem ligava de dormir sozinha, de acordar suando por botar duas cobertas no verão. Um frio que não saía de mim. Mas aí, a Ana veio, esqueceu a escova de dentes e sempre que podia, esquecia de novo. No primeiro dia eu achei graça, olhando do espelho, uma escova a mais na casa, na segunda vez eu me assustei, mas resolvi deixar lá mesmo. Mas aí, quando ela ia embora eu sentia falta do travesseiro. Que eu não ligava de não ter, mas que seria ótimo se por acaso eu tivesse. E ando trazendo mais edredons. Porque eu tenho que dar um jeito até junho chegar. E vou me virando até ela voltar.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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