Diz que sempre fala tudo e tem uma pose de quem gênio forte, não aguenta calada e não sofre por nada, com o rosto rígido, fechado pro mundo próprio. Mas reconheço cada traço inseguro. Na falta de fala que na verdade é mais ausente do que parece, no gaguejar que se esconde com uma espécie de pausa reflexiva antes de terminar as palavras, e estas, se alongam deixando a frase lenta, profusa. Nessa hora, dirige o olhar para o "nada", sem foco algum e mexe as mãos um pouco fora do ritmo. Algumas frases se repetem, uma, duas vezes, reafirmando algumas coisas, que eu acredito não poder esquecer nunca. Mal sabe disfarçar o que desgosta, olhando pra mim, mas me engole, sem cuspir nada, e ás vezes se pega rindo sobre o quanto sou diferente do que ela sempre olhou nas morenas por aí. Talvez acorde do meu lado e vendo o quanto sou branca, se desespere, ache graça do que fez. E a graça vem da frase que ela disse algumas vezes, sobre eu ter que amá-la pra sempre. Quase cena de filme, logo comigo, eu quis rir. E ela explica, esperando ser correspondida, que ela vai.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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