Sinto falta de escrever. E escrever sobre o futuro, como fazia quando comecei com tudo isso de textos como presente, como refúgio ou como descobertas. Mas acredito que ainda sinto necessidade, de revirar meu passado em lembranças pra entender o que tantas vezes encontro de errado, ou de incômodo em mim. Porque espelho pra mim, muitas vezes é o papel. 


Antes de escrever, me lembro de deixar a cabeça doer por tanto pensar, e tentar guardar todos os pensamentos na cabeça, enquanto meu pai dirigia. Eu fazia aquele percurso com minha família, umas três vezes na semana, e acabava tendo tempo demasiado para pensar e voltar a pensar nas mesmas coisas, buscando me lembrar das mesmas coisas. Me lembro bem, que um dos meus maiores medos era ter aquela vida estranha, de casamento e filhos, muito trabalho e nada mais. Havia decidido logo que queria sair dali, daquela cidade pequena demais. Me sentia egoísta, mas era tudo pouco pra mim. Assim que meu pai me perguntou sobre qual curso queria fazer na faculdade, soltei "Artes Cênicas", sem medo nem pudor algum, e não entendi o motivo do grito que ele deu, depois de tantos anos pagando danças, pedindo teatro na escola, e minha mãe sempre procurando um cursinho de modelo pra me enfiar. Eu havia decidido mudar sempre, alguma coisa. Trocava as camas de lugar no quarto, a cada semestre. Pedia meus pais pra mudar de quarto sempre, e antes de dormir, agradecia muito por ter um pai que me fez mudar tantas vezes de casa e gostar sempre de viajar. Dormia de cabeça pra baixo na cama algumas noites e desenhava minhas futuras casas. Porque uma só, não bastava. A necessidade de mudança sempre foi muito forte. E, talvez, a ideia de estudar alguma coisa que me fizesse viajar deixava essa não-rotina fixa mais acessível.



Tanto brilho eu via nas mudanças, que a cada viagem que eu fazia, carregava uma pedra do meu quintal, escondida no bolso, a fim de levar alguma coisa que pudesse mudar de cidade, totalmente, mesmo que a coisa não tivesse vida. Várias pedrinhas se espalharam por aí. Pena que nunca fui tão longe. Mas fui crescendo, e acomodando com a ideia de que a vida era isso mesmo. Crescer e estudar muito, a fim de ser a melhor em alguma coisa. Depois disso, trabalhar muito, a fim de conseguir uma vida tranquila e não ficar só na vontade de ter as coisas. Casar, e ter filhos. Fim. Tanto medo eu tinha do casar, que dizia à minha mãe, que teria o filho, mas o marido não. Diante de tantos discursos dela, dizendo que o casamento a tirou das festas e da juventude, não quis me ver na parte ruim e deixei nos meus planos um filho. Mas só um. 

Tenho medo de ter perdido a graça. De ficar só e me sentir realmente só. Como se eu não me bastasse. Porque sempre fui o suficiente, pra mim. E era só o que importava. Nunca pedi a ninguém aceitação. Não queria, se não quisessem, não precisava. Com base em tudo isso, acho que o ponto que mudou todo o caminho foi o tal do amor. Ou na parte que eu teria que ser a melhor, em alguma coisa. Mas ainda estou no caminho, pra entender tudo isso. Por ora, volto a escrever por refúgio, de forma talvez, infantil. Mas não me importo. Amadureço assim que puder.

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