Abra o chuveiro até que a pressão d'água seja barulhenta, e te tire quase tudo da cabeça. A queda bate no corpo, e assim, como quem te mostra a verdade na pele se avermelhando, te ensina que nada físico vai doer tanto quanto o que deve te fazer pensar agora. E te faz pensar, lembrar, e quase urrar dentro do banheiro. Mas o barulho do chuveiro camufla que tudo vai muito bem, obrigada. Chorar é nada, viver é muito mais. Muito mais tudo. Mais dor, mais amor, mais esperança, felicidade, mais alegrias, mais tudo.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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