Cheguei ao refeitório enxugando o rosto, pensando em mil coisas tentando
não pensar em nada. Cansada de pegar sempre a mesma comida, escolhi
aquela banca vegetariana que nunca, nunca tinha fila. Até estranho isso.
Mas, ai, deixar de comer carne tem me feito bem aqui. Olhei os
ingredientes e com preguica de falar inglês, disse que queria tudo. Tudo
junto. E o chef simpático me perguntou se podia por pimenta. Concordei
sem vontade de saber o que aquilo ia virar. E ele, mais simpático ainda
quis saber se eu era espanhola. Eu parecia espanhola. Não, Brasil.
Melhor ainda, ele disse. América do Sul, linda América do Sul. Conheci
mulheres na América do Sul que olha, eu me arrependi de voltar pra cá.
Abriu a pimenta. Só um pouquinho, eu disse. E a panela ferveu. Decidi
voltar lá mais vezes. Acho que esse cara me entende. E a pimenta,
anestesiou minha boca, praticamente não sinto mais nada. Pelo menos por
hoje.
Eu falo como se fosse a primeira vez. Sinto medo como se tivesse ainda quinze anos. E já que falar tudo que eu queria não tá adiantando muito, não vai mudar... eu peço que faça qualquer coisa, pra eu não ver mais beleza em qualquer lugar ou coisa que tenha você. Grata.
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