Lembrei subitamente da época em que eu esperava um dia inteiro, ás vezes até dois pra abrir a janela e escrever "saudade". Ela achava bonitinho, porque uma palavra só mostrava minha cautela com o que havia entre nós. E hoje, vejo no que transformamos. Aliás, no que eu me transformei. Fico me perguntando se é mesmo normal essa dependência, essa vontade de falar quase todo o tempo e a vontade de não esperar se tenho algo pra dizer agora. É bem aí onde mora o medo, de que tudo se desmorone de vez. 

Desde o dia em que cheguei sinto uma amarra no corpo, como se segurasse todos os órgãos no devido lugar. Respiro, passeio, ando muito a fim de treinar essa adaptação que não tem sido fácil. Sorrio para fotos quase todos os dias, principalmente fins de semana. Mas não consigo me deslumbrar apesar de passar horas querendo me entregar ao consumismo, porque gosto dele, confesso. Não tô fugindo de nada, só gosto mesmo dele. Nem uso a palavra que demanda tanta adaptação e dor, simplesmente sinto todos os dias e muitas vezes a partir disso sinto raiva, preguiça, muito sono...

Não consigo pensar pra onde correr porque do lugar que saí eu já me sentia estranha, fora de casa. Na casa que saí antes dessa também não parece minha casa há anos. Sendo assim, essa vida que me bota cada hora em um lugar me deixa frágil demais. 

Fico aqui pensando quando realmente vou me sentir numa vida normalzinha, dessas que a gente costuma ler e ver. Quando você nasce, tem notas baixas na infância e adolescência, mas se recupera. Quando você tem dois ou até três namorados, mas finalmente encontra o amor da sua vida, apesar dos defeitos e se casa. Antes disso, você se forma na faculdade, sai de lá com um emprego em vista e começa a fazer economias pra comprar uma casa, um carro e depois de cinco ou sete anos sente falta de um filho. Você tem o filho e quando acha que se sente completo, começa a cuidar dele e do seu outro amor, claro. Essas coisas parecem fáceis, eu já vi tanto isso. Mas olho bem pra minha vida e não sei em qual parte tudo começou a desandar. Acho que me cansei de desafios. Anda doendo demais. Mas que esse, seja o último. 

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