Decidi que não bebo mais. Não aqui. Já fui tão forte nessa vida que me pergunto em que bueiro minha força foi parar. Bebi algo tão besta outro dia e me levantei com todas as queixas do mundo: saudade, dor de cabeça, incompetência e talvez até ingratidão. Era muito maior que ressaca. A gente vai tentando provar a força que tem do jeito que der. Acordando todos os dias e engolindo verbos por todos os buracos do corpo, decorando o jeito de andar, sentar e acenar. O frio vem me endurecendo o corpo também. Mas o coração continua mole. E quando abro a janela, na esperança de sorrir tá tudo quase cinza. Outro dia conheci um prato novo e quase morri pra comer. Era frango molhado na pimenta pura, juro. Não sei por qual motivo, mas desde então já comprei mais duas vezes. Comi, quase chorando. Faço uns testes pra ser forte. Ás vezes pode dar certo.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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