O tempo cura um bocado. Na marra, mas cura. Dai a solidão das férias se transformou nesse emaranhado de afazeres, nessas listas que me acompanham todos os dias e que só vejo vantagem quando não sinto o tempo passar. Passei algumas noites chorando e me perguntando inconscientemente quando seria a chegada de um afeto menos material e mais... mais afeto daquela casa cheia de gente de onde saí. Não poderia reclamar, mas, foi como entender que o tempo foi perdido. Entre o sentir falta de algo que pouco se teve aqui se concluiu, e a saudade quando é assim, ela faz doer de forma brusca. E o tempo, como eu disse, cura. Você pode até olhar a cicatriz mas não vai sentir mais nada. Cresci. E agora tudo parece muito mais perigoso, medonho, um risco, um pacto eterno, uma dor enorme, não atravesso a rua, não pulo o muro, não deito no chão. Acho que já estou procurando emprego.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
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