Não sei quando foi que comecei a ver poder em cabelos. Mas desde então, me sinto pressionada a não mudar nem encurtar os meus. Desde um certo momento, momento que nem sei exatamente quando foi, me senti regredir. Um tanto a gente cresce e se mantém conservadora, que meus estudos e vontades de conhecer um outro mundo me deixam perdida. Meus cabelos se mantêm intactos, crescendo, querendo arrastar ao chão. Sempre os vi como uma máscara bonita pro meu rosto quando não resplendecesse felicidade. E venho então, deixando ele crescer por longos seis, sete meses. Mas vejo hoje toda essa luta pra não me tornar a mesma pessoas que meus pais são, ter a mesma ideia nova, que atrofia no primeiro enfrentamento. Dos cabelos longos, das roupas formais, dos objetivos a ser "alguém na vida", na procura do apartamento, na busca de um futuro promissor, no fechar os olhos para o que dizem na Tv, nos jornais, onde for. Ás vezes, parece não haver outro caminho a existir. E por mais que eu tenha pesadelos pela noite sobre meu futuro, há que saiba o quanto grito e luto por querer ser diferente. Não quero acreditar que no final da história, todo pássaro acaba voltando pra gaiola.
Voltou aquele sorriso tímido que eu media milimetricamente de longe, para considerar que era sim um momento de felicidade. Voltou o 'bom dia' mais legal, as perguntas sobre a vida e a 'boa noite' pedindo o abraço que eu ainda não sei dar. Voltou sem seu violão melodramático, no quintal solitário, porque voltou contente. Voltou sem julgar nada, ninguém, nem mesmo ele. Voltou meio ciumento, mas hoje olha pra mim e vê, porque sabe que há espaço pra ele também. Voltou pra mim e marcou seu território, aqui dentro e pelo mundo, daqueles que, apesar de tudo, eu ainda admiro. Meu pai voltou.
Comentários